Por Wilton Emiliano Pinto *
Há palavras que atravessam o tempo e parecem nos chamar pelo nome.
Dever é uma delas.
À primeira vista, soa como peso.
Lembra obrigações, cobranças, responsabilidades.
Mas, ao olhar mais fundo, percebo que o dever é, na verdade, um farol.
Ele aponta a direção da consciência, mostrando por onde seguir com segurança.
Nada no universo está fora da disciplina.
Os átomos obedecem às suas leis.
As constelações seguem seus movimentos perfeitos.
Até o homem, quando voa pelos céus, só consegue fazê-lo respeitando as normas que regem a máquina que o transporta.
Assim também acontece conosco, em nossa vida íntima.
O dever é a ordem silenciosa que nos mantém alinhados à obra divina.
Quando a consciência desperta, é como se fosse tocada pelo sol da razão.
Ela deixa de viver no escuro do instinto e começa a irradiar luz.
Essa luz não é apenas para si:
clareia o caminho dos outros,
cria simpatias,
atrai cooperação.
E aqui nasce a primeira grande lição:
cumprir o dever não é apenas uma obrigação, mas uma forma de espalhar luz.
Mas… e quando falhamos?
Quando nos afastamos da disciplina interior?
Acontece que não apenas nos prejudicamos, mas também tocamos negativamente os que estão ao redor.
Como engrenagens de uma mesma máquina, quando uma peça se desajusta, várias outras sofrem com isso.
Deus, porém, é Pai de misericórdia.
E nos oferece o que Emmanuel chama de dever-regeneração.
É nesse momento que surgem:
– o relacionamento difícil,
– a doença persistente,
– o chefe exigente,
– o trabalho que não escolhemos,
– ou a convivência que pede paciência e renúncia.
Não são castigos.
São campos de recuperação da alma.
Penso, então, na minha própria vida.
Quantas vezes me vi diante de situações que pareciam fardos…
E hoje percebo que eram, na verdade, oportunidades de aprender a ser melhor.
É na convivência difícil que treino a tolerância.
É na doença que exercito a fé.
É no trabalho pesado que descubro minha força interior.
Cada experiência é uma gleba espiritual para minha auto recuperação.
Mas existe um detalhe essencial:
mudar de posição não é automático.
Assim como na dinâmica de cruzar os braços, o gesto simples parece estranho quando invertemos o movimento.
Na vida, também é assim.
A passagem de um estado para outro exige pausa, reflexão e intenção.
Não basta desejar mudar.
É preciso respirar, pensar…
E só então escolher agir de modo diferente.
Esse intervalo consciente é o que transforma hábito mecânico em verdadeira renovação.
Faço, então, minha autoanálise:
✅ Conquistas — ouvir mais, valorizar o silêncio, agradecer pelo simples.
⚠️ Desafios — irritações pequenas, impaciência, pressa em responder.
🌱 Propósitos — cultivar serenidade, praticar humildade, servir com alegria.
Não sou perfeito, mas estou em caminho.
No fundo, entendo que o dever é isso:
um chamado diário à construção da melhor versão de mim mesmo.
Cada passo consciente — ainda que pequeno — faz a luz crescer em mim.
Porque o dever, longe de ser prisão, é libertação.
É ele que me faz sair do instinto e caminhar para a razão.
É ele que me conecta a Deus, pela prática paciente do bem.
E, quando compreendo isso, já não vejo o dever como peso.
Vejo como oportunidade.
✨ Cumprir o dever é aprender a viver em sintonia com a luz.
