Desde cedo, crescemos embalados por frases que soam como canções de ninar da vida:
“quem faz o bem, recebe o bem”,
“a vida é justa”,
“o universo devolve o que oferecemos”.
Parecia tão simples… tão lógico.
Se você fosse honesto, seria recompensado.
Se fosse gentil, seria tratado com carinho.
Se desse o seu melhor, a vida devolveria na mesma medida.
Mas então, a vida acontece.
E um dia você descobre que essa equação não fecha.
Você vê pessoas boas sendo traídas.
Vê quem se doa sendo esquecido.
Vê trabalhadores incansáveis sendo ignorados.
E, ao mesmo tempo, presencia os egoístas prosperando,
os manipuladores sorrindo
e os injustos colecionando vitórias fáceis.
E a pergunta vem como um golpe silencioso:
Será que ainda vale a pena ser bom num mundo que não devolve na mesma moeda?
Há quem dedique anos a cuidar de alguém,
abra mão de sonhos
e, ainda assim, receba ingratidão como resposta.
Essas situações doem,
porque no fundo desejamos uma justiça emocional,
como se houvesse uma balança invisível equilibrando tudo.
Mas a realidade é dura:
Nem sempre quem planta o bem colhe flores.
Às vezes colhe silêncio.
Às vezes colhe indiferença.
Às vezes, colhe nada.
Enquanto isso, outros desfilam com cestos cheios,
frutos que muitas vezes foram comprados, roubados ou apenas maquiados.
E isso… dói demais.
Mas há algo que esquecemos:
a colheita da alma não tem prazo terreno.
Nem sempre vem nesta vida,
pode vir em outra,
quando o espírito volta a caminhar com novo corpo, nova chance, nova história.
Porque, como acreditam muitos,
a vida não termina no túmulo,
apenas muda de forma e recomeça.
E tudo o que fazemos, o bem e o mal,
viaja conosco,
esperando o tempo certo de florescer.
A maior colheita, afinal, não é externa, é interna.
Há frutos que não aparecem em aplausos, nem em contas bancárias.
Eles se manifestam na consciência tranquila,
no sono leve,
na paz silenciosa de quem sabe que caminhou sem ferir ninguém.
É fácil acreditar que justiça é reconhecimento público.
Mas a maior justiça é poder olhar no espelho e dizer:
“Eu não precisei pisar em ninguém para chegar até aqui.”
A dor, no entanto, tem um veneno: pode endurecer.
Quem acreditava no bem, mas foi ferido,
corre o risco de levantar muros
e se tornar justamente aquilo que mais o machucou.
Esse é o maior perigo: perder a própria essência.
Bondade não é ingenuidade.
Honestidade não é passividade.
Amar não é se deixar explorar.
Ser bom é construir filtros em vez de muros.
É continuar sendo luz,
mas com sabedoria para não se apagar no processo.
Muitos sorriem para fotos,
mas choram quando as luzes se apagam.
Muitos colecionam aplausos,
mas não têm um abraço sincero para voltar pra casa.
E há aqueles que parecem estar vencendo,
mas vivem aterrorizados pelo medo de serem desmascarados.
Enquanto isso, você pode estar cansado,
lutando em silêncio,
sem reconhecimento algum.
Mas existe algo precioso aí:
sua coerência,
sua verdade,
seu coração que não sabe fingir.
E isso não é fraqueza.
É força rara.
Nem sempre o bem volta em forma de retorno imediato.
Mas ele nunca se perde.
Ele se transforma em dignidade,
serenidade
e força para atravessar as tempestades.
Ser justo nem sempre traz aplausos.
Mas traz leveza.
Ser íntegro não garante recompensas rápidas.
Mas garante raízes profundas.
E quem tem raiz firme pode até demorar para florescer,
mas quando floresce… ninguém derruba.
Plantar o bem não é sobre esperar retorno.
É sobre quem você se torna nesse processo.
É sobre manter-se inteiro,
verdadeiro,
em paz consigo mesmo.
Mesmo que o mundo não aplauda,
continue sendo bom.
Continue plantando com amor.
Porque, cedo ou tarde, nesta vida ou em outra, a vida surpreende.
Nem sempre colhemos o que plantamos.
Mas sempre colhemos o que cultivamos dentro de nós.
E isso, ninguém pode roubar.




