Em artigo no New York Times, presidente afirma que julgamento seguiu a Constituição e acusa governo Trump de agir politicamente para favorecer o ex-mandatário brasileiro.
Defesa da decisão do Supremo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu neste domingo (14) às críticas do governo dos Estados Unidos sobre a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete envolvidos na tentativa de golpe de 2023. Em artigo publicado no New York Times, Lula classificou como “orgulho” a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que, segundo ele, preserva as instituições e garante o Estado Democrático de Direito.
A Primeira Turma do STF condenou Bolsonaro e parte de seu núcleo político por liderar uma trama golpista. Após a sentença, Washington acusou o Brasil de promover uma “caça às bruxas” contra a oposição e prometeu uma “resposta adequada”. Lula, no entanto, disse que o julgamento foi fruto de investigações legais que revelaram planos para assassinar autoridades da República e anular o resultado das eleições de 2022.
Críticas às alegações americanas
O petista rebateu também as acusações de que a Justiça brasileira persegue empresas de tecnologia dos Estados Unidos. Para Lula, é “falso” afirmar que há censura ou perseguição às plataformas digitais. Ele ressaltou que todas as companhias, nacionais ou estrangeiras, devem obedecer à legislação brasileira.
“É desonesto chamar de censura a regulamentação que busca proteger famílias contra fraudes, desinformação e discurso de ódio”, escreveu. Segundo ele, a internet não pode ser “uma terra sem lei”, onde criminosos virtuais tenham liberdade para agir contra crianças e adolescentes.
Comércio digital e Pix em debate
O presidente brasileiro considerou “infundadas” as críticas de Washington sobre práticas comerciais e o sistema financeiro nacional. Ele destacou que o Pix, ferramenta de pagamento eletrônico citada pelo governo americano, ampliou a inclusão financeira de milhões de brasileiros.
“Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro, que movimenta a economia”, afirmou. Lula ainda mencionou as ações do seu governo para conter o desmatamento e reforçar a fiscalização ambiental, respondendo a críticas sobre a política ambiental do país.
Conflito tarifário com os Estados Unidos
No artigo, o petista disse ter escrito o texto para abrir um “diálogo franco” com Donald Trump, após a Casa Branca impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. Ele classificou as medidas como “remédio errado” e sem justificativa econômica.
Lula argumentou que o multilateralismo é a via mais adequada para resolver disputas comerciais e afirmou que a imposição de tarifas tem motivação política, vinculada à tentativa de favorecer Bolsonaro. O presidente acusou Washington de usar a Lei Magnitsky e barreiras comerciais para tentar garantir impunidade ao ex-presidente.
Relação bilateral e soberania nacional
Apesar das críticas, Lula disse acreditar na importância de manter a cooperação entre Brasil e Estados Unidos, lembrando que a relação entre os dois países já dura mais de dois séculos. No entanto, foi categórico ao afirmar que a democracia e a soberania brasileiras não estão em negociação.
“Presidente Trump, seguimos abertos a negociar o que possa trazer benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em pauta”, escreveu Lula, encerrando o artigo com um apelo ao respeito mútuo entre as duas nações.