A informação foi confirmada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) à RBS TV.
Deise Moura dos Anjos, presa temporariamente no domingo (5) por suspeita de envenenar um bolo que resultou na morte de três pessoas da mesma família em Torres (RS), realizou pesquisas na internet sobre arsênio antes do crime.
Segundo relatório preliminar de dados extraídos do telefone da suspeita, foram encontradas buscas relacionadas a arsênio, inclusive no Google Shopping. O arsênio é um elemento químico que, em altas concentrações, pode causar intoxicação grave e até morte. Ele é utilizado em pesticidas e, embora proibido como raticida no Brasil, possui aplicação restrita em tratamentos oncológicos.
Crime planejado, aponta investigação
A Polícia Civil aponta que Deise teve a intenção de cometer o crime. Segundo o delegado Marcus Vinícius Veloso, “as provas são robustas” e indicam que o envenenamento foi doloso. O arsênio foi encontrado em altas concentrações na farinha utilizada para fazer o bolo, de acordo com análises do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
“Foram identificadas concentrações altíssimas de arsênio nas três vítimas, muito superiores ao limite letal. Uma das vítimas apresentou níveis 350 vezes maiores do que o suficiente para causar a morte”, afirmou Marguet Mittman, diretora do IGP.
A investigação apura ainda como a suspeita obteve o arsênio, em que momento ele foi inserido na farinha e quem seria o alvo principal.
As vítimas
As três pessoas que morreram após consumir o bolo são as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva, e a filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos.
Zeli dos Anjos, sogra de Deise e responsável por preparar o bolo, sobreviveu e está hospitalizada em estado estável. Ela foi a única a comer duas fatias do bolo, o que resultou na maior concentração de veneno em seu sangue. Uma criança de 10 anos também ingeriu o alimento, mas recebeu alta do hospital.
Outros dois familiares que consumiram o bolo foram hospitalizados e já estão em recuperação. Um deles, marido de Maida, teve alta recentemente.
Contexto do crime
O caso ocorreu em 23 de dezembro de 2024, durante um café da tarde em família. Segundo relatos, o bolo apresentou um gosto apimentado e desagradável, que chamou a atenção dos presentes. Após as primeiras reclamações, Zeli interrompeu o consumo. “Ela colocou a mão sobre o bolo e disse: ‘Agora ninguém mais come’. Mas já era tarde”, relatou o delegado Veloso.
Sete pessoas estavam na casa, mas uma delas não consumiu o bolo e, por isso, não apresentou sintomas.
Prisão e defesa
Deise Moura dos Anjos está detida no Presídio Estadual Feminino de Torres e responde por suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e emprego de veneno), além de tripla tentativa de homicídio. A prisão temporária, com validade de 10 dias, será usada para a conclusão das investigações.
A defesa de Deise informou que já prestou atendimento à cliente, mas ainda não teve acesso integral ao inquérito.
O que é arsênio
De acordo com o professor André Valle de Bairros, especialista em Toxicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o arsênio é altamente tóxico, especialmente em sua forma de trióxido de arsênio, conhecida como arsênico.
“A partir de 100 mg, pode ocorrer a morte de um adulto. Geralmente, o arsênico não tem cheiro ou gosto, o que dificulta a detecção em alimentos. Apesar disso, também é utilizado para fins terapêuticos restritos, como no tratamento de leucemia promielocítica aguda”, explicou o especialista.
O caso segue sendo investigado, e a motivação do crime ainda não foi divulgada pelas autoridades.
Da Redação/Clicknews/G1