Bloco sul-americano firma tratado com Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein; governo brasileiro avalia impacto positivo de bilhões na economia e mantém negociações paralelas com UE e outros países
Acordo histórico com a EFTA
O Mercosul assinou nesta terça-feira (16) um acordo de livre comércio com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), composta por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. O tratado prevê a eliminação de tarifas em setores estratégicos e a ampliação do acesso a mercados, fortalecendo o comércio entre os dois blocos.
Segundo o chanceler Mauro Vieira, o entendimento é “histórico” e permitirá maior aproximação entre os países signatários, além de beneficiar futuros integrantes do Mercosul e Estados associados da América Latina.
O Brasil exerce atualmente a presidência rotativa do bloco, que inclui Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Venezuela (suspensa). Também fazem parte como associados Chile, Colômbia, Equador, Peru, Suriname, Panamá e Guiana.
Eliminação de tarifas e oportunidades comerciais
De acordo com o Itamaraty, a EFTA eliminará 100% das tarifas de importação para produtos industriais e pesqueiros. Também haverá abertura de mercado para carnes bovina, suína e de aves, além de milho, soja, mel, café torrado, frutas e sucos.
Em contrapartida, o Mercosul garantirá acesso a seus mercados, preservando instrumentos de defesa comercial. O vice-presidente Geraldo Alckmin avaliou que, embora não compense integralmente os prejuízos provocados pelas tarifas dos Estados Unidos, a iniciativa representa “uma abertura de mercado importante”.
Estudos indicam que o acordo pode gerar impacto de R$ 2,69 bilhões no PIB brasileiro, aumento de R$ 660 milhões em investimentos e expansão de R$ 3,34 bilhões em exportações até 2044.
Sustentabilidade e cláusulas inovadoras
O tratado também estabelece compromissos inéditos em sustentabilidade. Empresas de serviços digitais, por exemplo, só poderão usufruir das vantagens se seus países utilizarem, no mínimo, 67% de energia renovável na matriz elétrica.
Vieira destacou que a assinatura, às vésperas da COP30 em Belém, demonstra a possibilidade de integrar dimensões ambiental, social e econômica no comércio internacional.
Processo de ratificação
O acordo ainda depende de etapas de internacionalização, incluindo tradução oficial e aprovação pelos parlamentos nacionais. No Brasil, o texto será submetido ao Congresso.
Em nota conjunta, os ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e das Relações Exteriores informaram que o governo também conduz negociações com Emirados Árabes Unidos, Canadá, México e Índia.
Acordo Mercosul-UE em perspectiva
Paralelamente, segue a expectativa sobre o pacto Mercosul-União Europeia, em discussão há 25 anos. O texto foi enviado em setembro pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao Parlamento Europeu.
Para entrar em vigor, precisa do aval da maioria qualificada dos governos da UE — 15 dos 27 países que representem 65% da população do bloco. França lidera a oposição, alegando falhas nas exigências ambientais, enquanto Alemanha e Espanha defendem a ratificação como forma de reduzir dependência da China e ampliar mercados.
O Itamaraty estima que o acordo criará um mercado de 700 milhões de pessoas, representando 26% da economia mundial.
Corrente de comércio e impacto econômico
Em 2024, a corrente de comércio entre Mercosul e EFTA somou US$ 7,14 bilhões, com déficit de US$ 960 milhões para o bloco sul-americano. Os países europeus exportaram principalmente fármacos, químicos e máquinas, enquanto o Brasil vendeu metais básicos, alimentos e produtos agropecuários.
Com população de 15 milhões de habitantes e PIB conjunto de US$ 1,4 trilhão, a EFTA reúne algumas das economias mais ricas do planeta em termos per capita, como Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein.