Em Jacarta, presidente citou transição energética e soberania sobre riquezas minerais; Brasil defenderá quadruplicar o uso de biocombustíveis na COP30
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em Jacarta, nesta quinta-feira (23), que há um vasto potencial para aprofundar a cooperação entre Brasil e Indonésia, citando os setores de minerais críticos e de biocombustíveis como áreas-chave. A declaração foi feita durante um encontro com empresários dos dois países.
Dirigindo-se aos investidores estrangeiros, Lula assegurou que o Brasil oferece um panorama de estabilidade fiscal, jurídica, econômica e social. Segundo ele, este cenário garante a previsibilidade necessária para a tomada de decisões de investimento.
“Isso, o Brasil faz questão de oferecer a todo e qualquer investidor que queira investir e ter seu retorno”, declarou o presidente.
Minerais estratégicos e soberania
O chefe do Executivo brasileiro ressaltou o papel do país na transição energética, mencionando que, mesmo com apenas 30% de sua riqueza mineral mapeada, o Brasil já detém 10% das reservas globais de minerais críticos.
Para garantir o controle nacional sobre essas riquezas, Lula anunciou: “A criação de um Conselho Nacional de Minerais Críticos, vinculado à Presidência da República, será um passo para garantir a soberania”.
Nesse contexto, ele citou a Indonésia como um modelo importante, especialmente no incentivo ao processamento de minério bruto em seu próprio território. “Não pretendemos reproduzir a condição de meros exportadores de commodities. Queremos agregar valor em nosso território, com responsabilidade ambiental e respeito às comunidades locais”, complementou.
Bioenergia e COP30
Ao abordar a bioenergia, Lula destacou que Brasil e Indonésia, dois dos maiores produtores mundiais, têm a capacidade de criar um mercado global de biocombustíveis. Ele criticou a lentidão da Organização Marítima Internacional (OMI) em descarbonizar o transporte marítimo.
“O biocombustível de etanol é uma alternativa viável e imediatamente disponível”, argumentou.
O presidente adiantou a agenda brasileira para a COP30, que ocorrerá em Belém, no Pará, daqui a cerca de 20 dias. O Brasil apresentará uma proposta para a descarbonização do transporte marítimo internacional e defenderá o aumento de quatro vezes no uso de combustíveis sustentáveis no planeta.
“Vamos mostrar que é possível promover o desenvolvimento, enfrentar a mudança do clima e proteger as florestas tropicais e sua rica biodiversidade. Podemos expandir a produção de biocombustíveis, sem derrubar uma única árvore”, afirmou, reforçando que “não há como preservar a natureza sem cuidar das pessoas”.
Financiamento para florestas
Lula agradeceu o apoio indonésio ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que será lançado na COP30, para o qual o Brasil já aportou US$ 1 bilhão.
O fundo destinará recursos para financiar nações que mantêm suas florestas intactas, como os oito países sul-americanos, a Indonésia e a República Democrática do Congo.
O presidente explicou que o mecanismo visa acabar com a dependência de doações: “Se esse fundo funcionar, ninguém mais vai ficar pedindo dinheiro, como se estivesse pedindo esmola, para manter sua floresta de pé, e para evitar que o planeta tenha aquecimento acima de 1,5 grau”. Segundo ele, o fundo oferecerá alternativas de renda para quem protege o bioma, gerando dividendos para investidores e conservacionistas.
Segurança alimentar e comércio
Outras áreas citadas pelo presidente foram a segurança alimentar, onde o Brasil pode apoiar o programa indonésio de Refeição Nutritiva Gratuita, e a facilitação comercial para reduzir custos ao consumidor.
No setor de defesa e aviação civil, Lula citou a Força Aérea da Indonésia, que já opera a aeronave Super Tucano, e destacou que a aviação civil brasileira oferece a “melhor solução para companhias regionais — eficiência, baixo consumo e tecnologia de ponta”.