Presidente brasileiro defenderá soberania regional e diálogo em meio a pressões sobre narcotráfico e guerra na Ucrânia
Discussão sobre presença americana marca encontro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa neste domingo (9) da 4ª Cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE), em Santa Marta, na Colômbia. Em uma passagem breve pelo evento, Lula pretende abordar a crescente presença militar dos Estados Unidos nas águas do Caribe — tema que os países latino-americanos desejam incluir na declaração final da reunião, mesmo sem menções diretas a Washington.
Enquanto isso, a União Europeia tenta inserir no texto uma condenação explícita aos ataques da Rússia contra a Ucrânia. O encontro de alto nível se estende até segunda-feira (10), e a presença de Lula busca compensar ausências de última hora, como as da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do presidente uruguaio, Yamandú Orsi.
O líder brasileiro decidiu confirmar sua ida na última semana, afirmando que “a cúpula não tem sentido se não tratar dos barcos militares americanos em águas do Caribe”. No entanto, devido à agenda da COP30, em Belém (PA), Lula deve permanecer por menos de quatro horas na Colômbia.
Brasil resiste à pressão dos EUA sobre facções criminosas
Os Estados Unidos justificam os ataques a embarcações venezuelanas no Caribe como parte de uma ofensiva contra o narcotráfico. O Palácio do Planalto, porém, discorda dessa interpretação, sustentando que o combate ao tráfico não deve ser equiparado à luta contra o terrorismo, já que as facções têm motivações econômicas, e não ideológicas.
A questão desperta atenção especial do governo brasileiro porque Washington pressiona para que o Brasil classifique o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) como organizações terroristas, seguindo o exemplo de Argentina e Paraguai. Lula deve se opor a essa proposta durante a cúpula, reafirmando que o país não reconhece a equiparação entre crime organizado e terrorismo. Ele também deve defender que o enfrentamento ao crime seja feito sob uma ótica de soberania nacional e cooperação regional independente.
Debate sobre segurança interna e nova lei no Congresso
O tema ganha relevância no Brasil após a megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que resultou em mais de 120 mortes. Em resposta, o governo federal encaminhou ao Congresso um projeto de lei para endurecer o combate às facções criminosas. O relator da proposta, deputado Guilherme Derrite (PL-SP), secretário licenciado de Segurança Pública de São Paulo, defendeu a equiparação das punições a crimes de terrorismo — ponto que deve gerar novo embate político.
UE tenta incluir menção à guerra na Ucrânia
A expectativa é que a cúpula termine com uma declaração conjunta sem grandes avanços concretos, mas especialistas avaliam que o encontro pode reaquecer as negociações do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. A tentativa europeia de incluir referências à guerra na Ucrânia se repete, mas enfrenta resistência de países latino-americanos que preferem evitar condenações diretas à Rússia.
O governo Lula adota uma postura equilibrada, defendendo que conflitos internacionais sejam resolvidos por meio do diálogo e da diplomacia. O Brasil busca evitar linguagem condenatória, priorizando termos que reforcem o compromisso com a paz e o direito internacional — sem identificar culpados e preservando sua relação com Moscou, parceira estratégica nos Brics.



