Presidente busca novos mercados e articula Brics contra tarifaço de Trump que atinge exportações brasileiras
Recado a Trump e impacto no agronegócio
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou a semana com foco em negociações internacionais, em meio às sobretaxas impostas pelos Estados Unidos. Desde o último dia 6, entrou em vigor uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros, medida adotada pelo governo de Donald Trump. Sem abertura de diálogo direto entre os dois países, Lula tem respondido com ironia. No sábado (16), publicou um vídeo plantando uma muda de uva no Palácio da Alvorada.
“Trump, eu queria aproveitar este sábado, em que estou plantando o pé de uva aqui no Alvorada, para que a gente possa conversar e para que conheça o Brasil verdadeiro”, afirmou o presidente, destacando que prefere “plantar comida e não ódio”. A muda veio do Vale do São Francisco (PE), principal polo de frutas exportadas aos EUA, hoje ameaçado por perdas milionárias com o tarifaço.
Diplomacia em movimento
Nesta segunda-feira (18), Lula recebe o presidente do Equador, Daniel Noboa, em visita de Estado que deve resultar em novos acordos de cooperação e comércio bilateral. Além da aproximação com o país vizinho, o governo prepara missões oficiais para ampliar mercados na Ásia, Europa e América Latina.
O vice-presidente Geraldo Alckmin viajará ao México ainda este mês, enquanto Lula articula reuniões virtuais com líderes do Brics e planeja contatos telefônicos com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e com o premiê britânico, Keir Starmer. Segundo o Planalto, o objetivo é “negociar com todos os interessados”. Apenas em 2025, o Brasil já abriu 100 novos mercados para produtos agropecuários, somando 400 desde o início do atual mandato.
Estratégia para enfrentar tarifas
De acordo com Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), a resposta brasileira combina acordos internacionais e promoção ativa dos produtos nacionais. “Concluir acordos para reduzir barreiras e tarifas e promover os produtos brasileiros junto a novos parceiros”, resumiu.
A medida é urgente para setores como o de frutas, especialmente uva e manga, que têm nos EUA um de seus maiores destinos. A Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas (Abrafrutas) avalia que as perdas podem ser devastadoras.
Brics e alternativas ao dólar
Lula busca apoio dentro do Brics — grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de outros seis novos membros — para formular uma resposta conjunta às tarifas norte-americanas. Entre as alternativas em discussão estão a ampliação do comércio interno entre os países do bloco e o uso de moedas locais em vez do dólar. Retaliações diretas aos EUA, no entanto, são vistas como improváveis, dada a diversidade de interesses entre os membros.
Trump, que já havia anunciado uma taxação de 145% sobre produtos chineses — depois ajustada para 30% —, aplicou ao Brasil e à Índia a alíquota de 50%. Rússia, sob sanções ocidentais, ficou de fora da medida.
Ações paralelas e sanções políticas
O governo brasileiro também atua na Organização Mundial do Comércio (OMC), que foi acionada para intervir na disputa. Além disso, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) abriu um novo escritório em Washington, em parceria com a Câmara Americana de Comércio (Amcham), com o objetivo de ampliar a lista de produtos isentos da sobretaxa.
A escalada comercial veio acompanhada de novas sanções de Trump contra ministros brasileiros, incluindo Alexandre Padilha (Saúde), em represália a processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. O Planalto vê as medidas como politicamente motivadas e ofensivas à soberania nacional.
Especialistas projetam efeitos
Para a professora Lia Valls, da Uerj e pesquisadora do Cebri, o Brics tende a reforçar negociações bilaterais, mas dificilmente adotará medidas conjuntas de retaliação. Ela lembra que a China já autorizou recentemente que 183 empresas brasileiras exportem café e negocia a retomada das importações de frango, suspensas em julho.
Já o economista Otto Nogami, do Insper, avalia que as tarifas impostas por Washington podem acelerar a integração do Brics, apesar das divergências internas. “A população da China e da Índia, individualmente, é quatro vezes maior que a americana, o que representa um potencial de demanda extraordinário no futuro”, destacou.
O professor Antônio Jorge Ramalho da Rocha, da UnB, alerta para não superestimar a coesão do grupo. Segundo ele, Trump exagera ao tratar o Brics como um bloco fechado sob liderança de China e Rússia. “É um presidente que tem dificuldade em lidar com fatos e verdades. O Brics pode atenuar os efeitos do tarifaço, mas não mudará a rota da política externa de Trump”, concluiu.
( Com Agência Brasil )