Presidente brasileiro destaca sintonia com líder americano e defende retomada do diálogo entre os países
Em entrevista concedida nesta quarta-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que “aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível”, ao comentar o breve encontro que teve com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Nova York. A reunião ocorreu na terça (23), durante a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), e foi a primeira interação entre os dois desde que Trump assumiu o cargo e impôs sanções ao Brasil.
Segundo Lula, houve uma “química” entre os líderes — termo utilizado por Trump para descrever a impressão que teve da conversa. “Fiquei feliz ao ouvir dele que ‘pintou uma química’ entre nós. Eu, pessoalmente, acredito que 80% de uma boa relação é química e 20% é emoção. Por isso, considero essa sintonia muito importante, e torço para que essa relação dê certo”, declarou o presidente brasileiro, que também classificou o americano como “simpático”.
O diálogo, que durou 39 segundos conforme relato de Trump, foi considerado por membros do governo brasileiro como um gesto positivo. Ainda assim, há receio de que o presidente americano utilize o encontro como instrumento de pressão, como já ocorreu com líderes europeus em ocasiões anteriores.
Lula relatou ter sido surpreendido ao encontrar Trump em uma sala próxima ao púlpito onde discursou. “Eu disse ao presidente Trump o seguinte: não tem limite a nossa conversa, vamos colocar na mesa tudo”, afirmou. O petista também destacou que ainda não há definição sobre o formato do próximo encontro, mas não descartou que seja presencial.
Durante sua fala à imprensa, Lula reforçou a importância de um diálogo franco entre os dois países. “Vamos conversar como dois homens civilizados de 80 anos. Não existe espaço para brincadeira. Existe a necessidade de conversar sobre os conflitos”, disse. O presidente brasileiro completará 80 anos em outubro, enquanto Trump atingirá a mesma idade em junho do próximo ano.
O líder brasileiro também criticou as decisões recentes do governo americano, que incluem sanções a membros do Executivo e do Judiciário, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e sua esposa, Viviane Barci, além da restrição de visto ao advogado-geral da União, Jorge Messias, e outras seis pessoas. As medidas foram tomadas com base na Lei Magnitsky, que permite sanções contra indivíduos acusados de corrupção ou violação de direitos humanos.
Em seu discurso na Assembleia-Geral, Lula afirmou que as sanções e tarifas impostas pelos Estados Unidos representam uma ameaça à soberania nacional. “O Brasil optou por resistir e defender sua democracia”, declarou, utilizando o termo “democracia” 18 vezes ao longo da fala.
O presidente também expressou o desejo de restabelecer a harmonia entre os países. “Não há razão para que Brasil e EUA vivam momentos de conflito. Fiz questão de dizer ao presidente que temos muito o que conversar. E fiquei satisfeito quando ele me disse que é possível, sim, manter esse diálogo”, afirmou. “Espero que a gente possa reestabelecer a harmonia necessária que tem que ter sobre Brasil e EUA. Quando tiver eleição nos EUA, eu não me meto, e quando tiver no Brasil, ele não se mete.”
(Com Folhapress)