Conversa ocorre em meio a tensões bilaterais provocadas por tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e críticas de Trump ao Judiciário
Reunião virtual no Alvorada
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve, na manhã desta segunda-feira (6), uma videoconferência com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A conversa foi organizada após entendimentos entre assessores de ambos os governos no fim de semana, duas semanas depois do breve encontro entre os líderes na Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
No Palácio da Alvorada, Lula esteve acompanhado dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores), além do vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda a pasta de Desenvolvimento, Indústria e Comércio. O chefe da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, completou a comitiva brasileira.
“Química” em Nova York
Durante seu discurso na ONU, em 23 de setembro, Trump fez referência ao presidente brasileiro, a quem descreveu como “um cara muito legal”, e disse ter acertado com ele uma reunião para tratar da relação bilateral. O americano relatou um encontro breve nos corredores da organização, que teria durado “cerca de 39 segundos”, mas suficiente, segundo ele, para estabelecer uma “química excelente” entre os dois.
O gesto representou a primeira sinalização de Trump para o diálogo, mais de dois meses após a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, medida que o governo americano justificou apontando suposta perseguição judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil.
Lula, por sua vez, disse ter ficado surpreso com as declarações do republicano: “Eu fiquei feliz quando Trump disse que pintou uma química boa entre nós. Ele veio até mim com uma cara simpática, muito agradável. E eu acho que pintou uma química mesmo”, afirmou o brasileiro.
Relação marcada por atritos
A ligação desta segunda-feira acontece em meio a tensões crescentes na relação entre Brasil e Estados Unidos. A sobretaxa anunciada por Trump afetou setores como máquinas e equipamentos, calçados, carnes e frutas, e foi criticada duramente pelo governo brasileiro, que insiste no respeito à soberania e na adoção de medidas de reciprocidade.
Outro ponto de atrito é a insistência de Washington em vincular qualquer avanço nas negociações comerciais ao arquivamento do processo contra Jair Bolsonaro, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado. Trump chegou a impor sanções contra cidadãos brasileiros, incluindo o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane Barci de Moraes.
Perspectivas para as negociações
A expectativa do Planalto é que a retomada de contato direto com Trump abra espaço para negociar a retirada da tarifa de 50%. Para diplomatas brasileiros, o diálogo representa uma chance de reequilibrar a relação bilateral, sem abrir mão da autonomia política e das prerrogativas constitucionais do país.