Presidente brasileiro afirma que não haverá veto a nenhum tema e pretende esclarecer “equívoco” das sanções impostas pelos EUA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (24) estar otimista em relação ao encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, previsto para domingo, em Kuala Lumpur, na Malásia. Antes de deixar Jacarta, na Indonésia, Lula declarou que a conversa será ampla e sem restrições de pauta, mas que a prioridade do governo brasileiro será questionar as taxações e sanções impostas pela Casa Branca a produtos e autoridades do país.
Após destacar os resultados da visita à Indonésia — que incluiu a assinatura de oito novos acordos comerciais entre Brasil e o país asiático, parceria que movimenta atualmente cerca de US$ 6 bilhões — o presidente voltou suas atenções para a relação com Washington.
“Estou convencido de que a gente pode avançar muito [nas negociações] e voltar a uma relação civilizada com os EUA, que já temos há 201 anos. O presidente Trump sabe que o preço da carne lá está muito alto e precisa baixar, sabe que o cafezinho vai ficando caro. Eu quero ter a oportunidade de dizer para o Trump o que o Brasil espera dos EUA e dizer o que nós temos para oferecer. Não existe veto a nenhum assunto”, afirmou Lula.
O presidente brasileiro deixou sua agenda de domingo à tarde aberta para uma possível reunião com Trump. A Casa Branca também reservou um horário sem compromissos oficiais para o mesmo período.
“Nenhum veto” e defesa de interesses nacionais
Questionado sobre o que o Brasil poderia oferecer aos EUA nas negociações, Lula evitou detalhar, mas indicou que está disposto a discutir todos os temas propostos por Trump — “de Gaza a Ucrânia, a Rússia, a Venezuela, minerais críticos, terras-raras”.
“Tenho todo interesse em ter esta reunião”, disse Lula a repórteres em Jacarta, antes de embarcar para Kuala Lumpur. “Tenho toda disposição de defender os interesses do Brasil e mostrar que houve equívoco nas taxações ao Brasil. Essa taxação não é verídica. A tese pela qual se taxou o Brasil não tem sustentação e nenhuma verdade. Os EUA têm superávit de US$ 410 bilhões em 15 anos com o Brasil.”
Segundo o presidente, se o encontro de fato ocorrer, ambos os líderes terão liberdade para “dizer o que quiserem, como quiserem”, mas também “ouvir o que quiserem e o que não quiserem”.
Críticas à política antidrogas americana
Durante a coletiva, Lula também criticou a campanha antidrogas conduzida por Trump contra a Venezuela, que incluiu ataques a embarcações e ameaças de ações por terra. Segundo o petista, esse tipo de operação agrava as tensões no continente e fere a soberania dos países.
“Você não fala que vai matar as pessoas. Você tem que prender as pessoas, julgar as pessoas, saber se a pessoa estava ou não traficando e aí você pune as pessoas de acordo com a lei. É o mínimo que se espera que faça um chefe de Estado.”
Lula defendeu que os Estados Unidos priorizem a cooperação policial e judicial com os países da região em vez de agir unilateralmente.
“É muito melhor os EUA se disporem a conversar com as polícias dos países, com o Ministério da Justiça de cada país, para fazermos ações conjuntas. Porque se a moda pega, cada um acha que pode invadir o território do outro para fazer o que quer. Onde vai surgir a palavra respeitabilidade à soberania dos outros países?”, questionou.
Margem Equatorial e transição energética
Às vésperas da COP30, Lula também comentou a liberação da exploração de petróleo na Margem Equatorial. Ele afirmou que o Brasil é um dos países com maior produção de energia renovável do mundo e que a Petrobras tem histórico exemplar na exploração em águas profundas.
“A Petrobras tem expertise em prospecção de petróleo em águas profundas. Não tem histórico da Petrobras com vazamento de petróleo em lugar nenhum”, afirmou.
O presidente acrescentou que os recursos provenientes do petróleo devem ser direcionados para financiar a transição energética global.
“Se nós estamos reivindicando que a gente proteja as florestas e trabalhe para reduzir o uso de combustível fóssil, uma das formas é utilizar o dinheiro do petróleo para consolidar a chamada transição energética no Planeta Terra. A Petrobras, aos poucos, vai deixar de ser uma empresa de petróleo para virar uma empresa de energia”, concluiu.



