O presidente do Brasil condenou a corrida armamentista global e propôs um fortalecimento da ONU para enfrentar crises internacionais.
Na abertura da cúpula do Brics, realizada no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma crítica incisiva ao aumento global dos gastos militares, destacando a recente decisão da Otan, a aliança militar do Ocidente, de fixar em 5% do PIB o limite recomendado para despesas com defesa. Lula alertou que essa medida favorece a corrida armamentista e desvia recursos essenciais para áreas como a saúde e o meio ambiente. Em seu discurso no Museu de Arte Moderna, o presidente brasileiro também se posicionou firmemente a favor do multilateralismo, enfatizando a necessidade de fortalecimento das instituições internacionais.
O cenário global e o aumento de gastos militares
Lula mencionou o contexto mundial atual, descrevendo um “número inédito de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial”, e criticou a abordagem de muitos países frente a essa realidade, com um foco excessivo em investimentos militares. Ele ressaltou que “é mais fácil alocar 5% do PIB em gastos militares do que em ações sociais e ambientais”, e destacou que a guerra, muitas vezes, recebe mais investimentos do que a paz.
Em relação à crise nuclear, o presidente do Brasil criticou as “violação à integridade territorial do Irã”, referindo-se aos ataques americanos a instalações nucleares iranianas no mês anterior, e alertou para a instrumentalização de agências internacionais como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), afetando a sua credibilidade.
O conflito em Gaza e o apoio ao multilateralismo
Lula também se referiu ao conflito em Gaza, reiterando a posição do Brasil contra os ataques do Hamas a Israel, mas sublinhou a preocupação com os “genocídios praticados por Israel” e a “matança indiscriminada de civis inocentes”. O presidente afirmou que a solução para o conflito só seria possível com o fim da ocupação israelense e a criação de um Estado palestino soberano.
A condenação à guerra na Ucrânia também foi abordada, com o presidente defendendo o aprofundamento do diálogo para uma resolução pacífica, destacando o papel do Brasil no Grupo de Amigos para a Paz, que inclui a China. Lula, em seu discurso, reiterou a importância da Organização das Nações Unidas (ONU) em um momento de múltiplas crises, e defendeu um sistema multilateral mais forte, justo e democrático, com a reforma do Conselho de Segurança da ONU, um antigo pleito brasileiro.
O futuro do Brics e da ONU
Ao falar sobre o Brics, o presidente brasileiro afirmou que a “representatividade e diversidade” do grupo tornam-no uma força capaz de promover a paz e prevenir conflitos. Lula também destacou a necessidade de expandir o Conselho de Segurança da ONU, tornando-o mais legítimo e representativo, um pedido histórico do Brasil. Segundo ele, “adiar esse processo torna o mundo mais instável e perigoso”.
Desafios internos e a pressão externa de Donald Trump
No cenário global, a reunião do Brics ocorre em um momento crítico, com o Oriente Médio em crise e os membros do bloco envolvidos em questões diplomáticas delicadas. A situação com Israel e Irã, assim como os avanços nas negociações sobre Gaza, são apenas algumas das frentes de tensão. Além disso, o bloco enfrenta desafios internos, como a resistência da África do Sul à expansão do Conselho de Segurança, e a pressão de lideranças como a do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que pode influenciar as negociações sobre a moeda única e tarifas comerciais. Embora a ideia de uma moeda única tenha sido afastada publicamente, os países do Brics continuam buscando formas de aumentar o comércio entre si, utilizando moedas nacionais.
Conclusão: um chamado à ação coletiva
Em sua fala, Lula deixou claro que a sobrevivência da ONU e a estabilidade global dependem da revisão das estruturas internacionais existentes. “Cada dia que passamos com uma estrutura internacional arcaica e excludente é um dia perdido para solucionar as crises que assolam a humanidade”, concluiu o presidente, reafirmando o compromisso do Brasil com o multilateralismo e a busca por soluções coletivas e pacíficas para os desafios globais.
Este é um momento chave para o Brics e para a própria ordem internacional, à medida que as grandes potências tentam lidar com questões de segurança, economia e justiça social.