Presidente brasileiro encerra visita ao Japão e afirma que medidas protecionistas norte-americanas podem elevar inflação e juros.
Ao encerrar sua visita oficial ao Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente a nova tarifa de 25% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a importação de veículos estrangeiros. A medida, segundo Lula, tende a ser prejudicial à própria economia norte-americana.
“Se ele [Trump] está pensando que tomar essa decisão de taxar tudo aquilo que os Estados Unidos importam vai ajudar, eu acho que vai ser prejudicial aos Estados Unidos. Isso vai elevar o preço das coisas e pode levar a uma inflação que ele ainda não está percebendo”, afirmou Lula a jornalistas, na noite de quarta-feira (26), horário de Brasília, já manhã de quinta-feira (27) no Japão.
A crítica foi feita após o anúncio da nova sobretaxa, que afeta especialmente montadoras japonesas com forte presença nos Estados Unidos. “Os EUA importam muito carro japonês e têm muitas empresas japonesas produzindo carro lá. (…) Vai ficar mais caro para o povo americano comprar, e esse mais caro pode resultar no aumento da inflação, que pode significar aumento de juros, e contenção da economia”, alertou o presidente.

Aço, alumínio e OMC
Lula também confirmou que o Brasil pretende recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra outra tarifa imposta pelos EUA: a de 25% sobre o aço e o alumínio brasileiros. Segundo o presidente, o governo avalia ainda a adoção da chamada “lei da reciprocidade”, com possíveis tarifas sobre produtos norte-americanos importados pelo Brasil.
“Temos duas decisões a fazer. Uma é recorrer à OMC, e nós vamos recorrer. A outra é sobretaxar os produtos americanos que nós importamos”, disse. A aplicação de retaliações, no entanto, dependerá da eficácia do recurso diplomático. Lula defendeu a preservação das regras de livre comércio e criticou o avanço de posturas unilaterais no cenário global. “Estou preocupado porque o multilateralismo está sendo derrotado, e o presidente americano não é xerife do mundo, ele é apenas presidente dos Estados Unidos”, afirmou.

Avanços com o Japão
Durante a visita a Tóquio, Lula também buscou fortalecer laços comerciais com o Japão. Um dos temas centrais foi a abertura do mercado japonês à carne bovina brasileira — demanda antiga do setor agropecuário nacional. O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, comprometeu-se a enviar uma missão técnica para analisar as condições sanitárias do rebanho brasileiro.
“Cada país tem seus critérios. O que ouvi do primeiro-ministro é que ele vai, o mais rápido possível, mandar especialistas para analisar. Vendemos uma carne de muita qualidade, a mais barata entre os países. Acredito que, ainda este ano, vamos ter uma solução”, afirmou Lula.
O presidente também reiterou o interesse em avançar nas negociações de um acordo comercial entre o Mercosul e o Japão. “Vou assumir a presidência do Mercosul no segundo semestre. E, se depender de mim, nós vamos trabalhar para que haja esse acordo. É bom para os países do Mercosul e para o Japão”, declarou.
Cooperação bilateral e agenda
Ao longo dos três dias de visita, a delegação brasileira firmou dez acordos de cooperação com o governo japonês nas áreas de comércio, indústria e meio ambiente, além de cerca de 80 instrumentos firmados entre entidades públicas e privadas de ambos os países. Foi anunciado um plano de ação para revitalizar a Parceria Estratégica Global, vigente desde 2014.
Entre os acordos comerciais firmados, destaque para a compra de 20 jatos modelo E-190 da Embraer pela companhia aérea japonesa ANA, maior do país.
A agenda oficial de Lula incluiu encontros com o imperador Naruhito, o primeiro-ministro Ishiba e empresários brasileiros e japoneses. Em discurso no Fórum Empresarial Brasil-Japão, o presidente incentivou investimentos japoneses no Brasil e criticou o avanço do negacionismo climático e do protecionismo comercial.
A visita também incluiu diálogo com sindicatos japoneses, onde Lula abordou temas trabalhistas e políticas para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. O presidente ainda pediu ao governo japonês o “firme engajamento” na Conferência do Clima da ONU (COP30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA).
A comitiva brasileira foi composta por ministros, parlamentares, empresários e sindicalistas. Os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), também participaram da viagem.
Após encerrar a agenda no Japão, Lula segue nesta quinta-feira (27) para Hanói, no Vietnã, onde cumpre a segunda etapa de sua viagem à Ásia.