Eleito com ampla vantagem, líder da direita chilena acumula histórico de críticas à esquerda latino-americana e defende agenda rígida de segurança, imigração e austeridade fiscal
Eleito presidente do Chile, o candidato de direita José Antonio Kast consolidou sua vitória com 58% dos votos, segundo a apuração de 95% das urnas, superando a adversária comunista Jara, que obteve 41%. Ao longo da trajetória política, Kast construiu uma imagem marcada por críticas recorrentes ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por manifestações públicas de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Histórico de declarações sobre o Brasil
As posições de Kast em relação à política brasileira ganharam projeção internacional a partir de 2018, quando comentou a decisão de Jair Bolsonaro de nomear o então juiz Sérgio Moro como ministro da Justiça. À época, afirmou que “Lula é corrupto, não uma vítima”, em referência à condenação do petista, posteriormente anulada pelo Supremo Tribunal Federal.
Em publicação na rede social X, Kast argumentou que a nomeação de Moro não representava uma recompensa, mas uma decisão política voltada ao combate rigoroso à corrupção. A declaração foi feita em resposta a uma postagem da então senadora Gleisi Hoffmann, que classificou a nomeação como “farsa do século” e afirmou que Bolsonaro só teria vencido a eleição porque Lula foi impedido de concorrer.
Apoio explícito a Bolsonaro
O alinhamento com o ex-presidente brasileiro se repetiu em outras ocasiões. Em 2019, Kast criticou parlamentares chilenos que se recusaram a participar de um almoço oficial com Bolsonaro, durante visita ao Brasil. Na ocasião, classificou a decisão como “vergonhosa” e voltou a mencionar a prisão de Lula por corrupção.
Durante as eleições presidenciais brasileiras de 2022, Kast publicou um vídeo no qual elogiou o primeiro mandato de Bolsonaro e atacou novamente Lula. Segundo ele, os brasileiros precisariam escolher entre “o caminho do progresso” e o retorno a um governo que descreveu como “corrupto e fracassado”. O político chileno também afirmou que o Brasil teria recuperado crescimento econômico, segurança e liberdade sob a liderança de Bolsonaro.
Críticas após a vitória de Lula
As declarações críticas não cessaram após a eleição de Lula. Em março de 2024, Kast associou o aumento da criminalidade no Chile à atuação de organizações criminosas estrangeiras, citando Venezuela, Peru, México, Colômbia e Brasil. Na mesma manifestação, questionou se o país caminharia para integrar uma suposta “República Bolivariana” promovida pela esquerda regional.
Segurança e imigração no centro do governo
A campanha de Kast foi estruturada em torno dos temas de segurança pública e imigração. O presidente eleito defendeu a implantação de um “governo de emergência” para enfrentar o avanço da criminalidade no país.
Entre as principais propostas estão a construção de presídios de segurança máxima, o endurecimento das penas, mudanças nas regras de legítima defesa e a criação de uma força especial destinada a retomar áreas dominadas pelo crime organizado. Durante a campanha, Kast afirmou que “o Chile voltará a ser um país seguro”.
Política migratória mais rígida
No campo migratório, o novo presidente prometeu deportações em massa de imigrantes em situação irregular, inclusive com o uso de voos fretados. Parte do custo das operações, segundo ele, seria arcada pelos próprios deportados. Kast também defende que a imigração irregular passe a ser tipificada como crime e que estrangeiros sem documentação não tenham acesso a serviços públicos básicos, como educação, saúde e moradia.
Agenda econômica e fiscal
Na economia, Kast anunciou um plano de austeridade fiscal, com a redução de gastos públicos estimada em US$ 6 bilhões ao longo de 18 meses. No âmbito tributário, propôs a diminuição do imposto corporativo para médias e grandes empresas, dos atuais 27% para 23%, além da eliminação do imposto sobre ganhos de capital na venda de ações em situações específicas.
A combinação de discurso conservador, alinhamento internacional à direita e propostas de endurecimento institucional definirão o início do mandato de José Antonio Kast, que vai assumir o comando do Chile em um cenário de forte polarização política.



