Tratamento experimental promete regenerar dentes perdidos e pode chegar ao público até 2030
Pesquisadores dão início aos primeiros testes em humanos
O Japão está cada vez mais próximo de alcançar um marco histórico na odontologia: um medicamento capaz de fazer crescer novos dentes em pessoas adultas. Pesquisadores do Hospital Kitano, em Osaka, e da Universidade de Kyoto iniciaram recentemente os testes clínicos com humanos, abrindo caminho para uma alternativa biológica às dentaduras e aos implantes dentários. A expectativa é de que o tratamento esteja disponível até 2030.
O projeto é liderado por Katsu Takahashi, chefe do departamento de odontologia e cirurgia oral do Hospital Kitano. Há anos, sua equipe investiga os genes responsáveis pela formação dentária. Em 2021, os cientistas publicaram um estudo na revista Scientific Reports demonstrando que o bloqueio da proteína USAG-1 permitiu o crescimento de novos dentes em camundongos — resultado que impulsionou as etapas seguintes da pesquisa.
O mecanismo por trás da regeneração dentária
Com os avanços obtidos em testes com animais, pesquisadores passaram, em 2024, à fase de experimentação em humanos. Em entrevista concedida em 2023, Takahashi explicou que, se o método se mostrar eficaz, será possível restaurar dentes perdidos por envelhecimento, acidentes ou condições genéticas, eliminando a necessidade de próteses artificiais.
Segundo a revista Dentistry Today, ao inibir a proteína associada ao gene USAG-1, o organismo “lembra” sua capacidade natural de formar uma nova dentição. Os seres humanos, afirma Takahashi, mantêm uma “terceira geração” de dentes em estado dormente — germes dentários que não se desenvolvem, exceto em casos de hiperdontia, quando dentes extras surgem espontaneamente.
O estudo integra um conjunto mais amplo de avanços na medicina regenerativa. Em 2018, pesquisadores identificaram células-tronco especializadas (MDPSCs) capazes de regenerar a polpa dentária. Em 2020, outra equipe demonstrou que o implante de células-tronco humanas em dentes danificados pode reconstruir vasos sanguíneos e nervos. No mesmo ano, um hidrogel com células e micropartículas mostrou eficácia na regeneração óssea da estrutura dentária.
Testes clínicos avançam com 30 voluntários
A fase atual da pesquisa envolve 30 homens, entre 30 e 64 anos, que perderam ao menos um dente. Cada voluntário receberá uma dose intravenosa da substância, e os pesquisadores acompanharão sua evolução ao longo de 11 meses para analisar segurança e eficácia.
Até agora, os testes com animais não apontaram efeitos colaterais relevantes, o que fortalece a confiança da equipe. Segundo o jornal The Mainichi, a próxima etapa — caso os resultados se confirmem — será testar o tratamento em crianças com uma condição congênita que impede o desenvolvimento de múltiplos dentes.
Um potencial marco para a odontologia até 2030
Takahashi e sua equipe esperam tornar o medicamento disponível ao público antes do fim da década, consolidando a primeira terapia do mundo capaz de regenerar dentes humanos. Atualmente, as soluções mais eficientes para substituir dentes perdidos são próteses e implantes, procedimentos úteis, porém invasivos e que não se integram de forma natural ao organismo.
A possibilidade de estimular o crescimento de um dente completamente novo representa um avanço sem precedentes e inaugura uma nova era na medicina regenerativa — aproximando a ciência de um sonho antigo da odontologia: restaurar dentes de forma natural e permanente.



