Publicações de órgãos do governo norte-americano nas redes sociais são classificadas como ingerência e ameaça à soberania nacional
Governo brasileiro reage a críticas dos EUA após prisão domiciliar de Bolsonaro
O Ministério das Relações Exteriores convocou, na manhã desta sexta-feira (8), o encarregado de negócios dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, para manifestar “profunda indignação” diante de mensagens divulgadas nas redes sociais pelo Departamento de Estado norte-americano e pela embaixada dos EUA em Brasília.
A reação do governo brasileiro ocorre dois dias após a decretação de prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Conteúdo é considerado ofensivo e ameaça a autoridades brasileiras
De acordo com nota divulgada pelo Itamaraty, as publicações norte-americanas configuram “clara ingerência” em assuntos internos do Brasil e contêm “ameaças inaceitáveis” contra autoridades nacionais. A convocação do diplomata norte-americano ocorreu às 9h e foi conduzida pelo embaixador Flavio Goldman, que atualmente responde pela Secretaria de Europa e América do Norte do ministério.
Nos textos publicados nas redes oficiais, o governo dos Estados Unidos acusa o ministro Alexandre de Moraes de promover “flagrantes violações de direitos humanos”, classificando-o como o “principal arquiteto da censura e perseguição contra Bolsonaro e seus apoiadores”. As mensagens também mencionam sanções impostas contra o magistrado com base na chamada Lei Magnitsky, implementadas pelo ex-presidente Donald Trump durante seu primeiro mandato.
Ameaça de sanções a outros ministros do STF preocupa autoridades brasileiras
Com tom considerado hostil por autoridades brasileiras, as postagens advertiam que “aliados de Moraes no Judiciário e em outras esferas” não deveriam apoiar suas decisões, e indicavam que “a situação está sendo monitorada de perto”. No Supremo Tribunal Federal, a manifestação pública foi interpretada como uma ameaça velada de que outros ministros também poderiam ser alvo de sanções por parte do governo norte-americano.
O Itamaraty classificou o episódio como uma ruptura dos protocolos diplomáticos e um desrespeito à soberania brasileira. Para diplomatas, o posicionamento norte-americano fere princípios básicos das relações exteriores e agrava tensões institucionais.
Representação diplomática dos EUA segue sem titular em Brasília
Gabriel Escobar está à frente da missão diplomática dos EUA no Brasil desde janeiro, quando a então embaixadora Elizabeth Bagley, indicada pelo ex-presidente Joe Biden, deixou o cargo. Desde que reassumiu a presidência norte-americana, Donald Trump já nomeou embaixadores para 61 países ou organismos multilaterais, mas ainda não indicou um novo representante oficial para a embaixada em Brasília, que permanece sob comando interino.