Militares israelenses dizem que facção atacou tropas em área de recuo; tensão ameaça desestabilizar acordo mediado por Trump
O Exército de Israel lançou uma nova ofensiva na Faixa de Gaza neste domingo (19), após acusar o Hamas de atacar tropas em uma zona de recuo prevista no cessar-fogo firmado com mediação do presidente americano Donald Trump e aliados. O episódio reacende a violência na região e ameaça minar o acordo, que buscava consolidar uma paz duradoura apesar das divergências persistentes entre as partes.
Israel fala em “violação flagrante” do acordo
Em comunicado, as Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram que “terroristas dispararam um míssil antitanque e tiros de armas leves contra tropas israelenses que operavam para desmantelar infraestrutura terrorista na área de Rafah, conforme previsto no acordo de cessar-fogo”.
Segundo a nota, a resposta militar teve como objetivo “eliminar a ameaça e desmantelar estruturas usadas para atividades terroristas”. O Exército classificou as ações do Hamas como uma “violação flagrante” do acordo.
O gabinete do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu também ordenou “firme ação contra alvos terroristas na Faixa de Gaza”, reiterando que o grupo palestino teria rompido os termos da trégua.
Hamas nega ataque e acusa Israel de violações
Izzat al-Risheq, alto funcionário do Hamas, afirmou que Israel é quem tem violado repetidamente o cessar-fogo, embora tenha garantido que a facção “permanece comprometida” com o acordo.
O braço militar do grupo negou ter realizado qualquer ataque em Rafah e disse “não ter conhecimento de incidentes” envolvendo tropas israelenses.
De acordo com o gabinete de mídia do território, controlado pelo Hamas, Israel já teria cometido 47 violações desde a entrada em vigor do cessar-fogo, resultando em 38 mortos e 143 feridos.
Pressões internas e escalada política
Dentro de Israel, a tensão também cresce. O ministro de extrema direita Itamar Ben-Gvir pediu a retomada total da ofensiva militar em Gaza. “A crença falsa de que o Hamas vai mudar, ou respeitar o acordo, está se provando perigosa para nossa segurança”, declarou.
A ofensiva israelense ocorre em meio a impasses sobre a devolução dos corpos de reféns israelenses. Tel Aviv afirma que o Hamas tem atrasado intencionalmente a entrega dos 16 corpos restantes.
Até o momento, o grupo devolveu todos os 20 reféns vivos e 12 corpos, alegando dificuldades técnicas para recuperar os que estariam soterrados sob escombros. Neste domingo, Israel confirmou a identificação de mais dois corpos entregues: Ronen Engel, de 54 anos, sequestrado no kibutz Nir Oz em 7 de outubro de 2023, e o tailandês Sonthaya Oakkharasri, de 30 anos, morto no kibutz Be’eri. Autoridades palestinas informaram que receberam de volta 15 corpos repatriados por Israel.
Fechamento de Rafah e impasse sobre ajuda humanitária
O primeiro-ministro Netanyahu anunciou no sábado (18) que a passagem de Rafah, na fronteira entre Gaza e o Egito, permanecerá fechada “por tempo indeterminado”, condicionando sua reabertura ao cumprimento integral do acordo por parte do Hamas.
A decisão contradiz uma declaração anterior da embaixada palestina no Egito, que havia informado que a passagem seria reaberta nesta segunda-feira (20). Rafah permanece praticamente bloqueada desde maio de 2024, dificultando a entrada de ajuda humanitária essencial ao território.
Futuro incerto para o plano de paz
O acordo de cessar-fogo, em vigor desde o dia 10, previa o aumento do fluxo de ajuda e a reconstrução gradual de Gaza. No entanto, temas centrais seguem sem consenso, como o desarmamento do Hamas — exigido por Israel e rejeitado pela facção —, a governança do território após o conflito, a composição de uma força internacional de estabilização e os passos rumo à criação de um Estado palestino.
Essas pendências, somadas à nova escalada militar, colocam em risco o plano de paz articulado por Trump e mantêm o Oriente Médio à beira de mais um colapso diplomático e humanitário.