Ataques aéreos e terrestres deixam dezenas de mortos; gabinete de segurança discute nova fase da guerra e possibilidade de anexação da Cisjordânia.
Bombardeios e avanço terrestre em Gaza
As forças israelenses lançaram novos ataques contra os subúrbios da Cidade de Gaza na madrugada deste domingo (31), em operações aéreas e terrestres que resultaram na destruição de residências e na retirada forçada de famílias da região.
De acordo com autoridades de saúde locais, pelo menos 30 pessoas morreram no domingo, entre elas 13 que tentavam buscar alimentos em um posto de assistência na área central do enclave palestino. Duas outras vítimas foram registradas em uma residência atingida na Cidade de Gaza.
No dia anterior, um ataque a um edifício residencial já havia provocado a morte de 15 pessoas, incluindo cinco crianças.
Preparação para ofensiva em larga escala
O Exército de Israel tem ampliado suas operações ao redor da Cidade de Gaza nas últimas três semanas. Na sexta-feira (29), suspendeu as pausas humanitárias que permitiam a entrada de ajuda, classificando a região como uma “zona de combate perigosa”.
Fontes oficiais afirmam que o gabinete de segurança do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se reúne neste domingo para discutir os próximos passos da ofensiva, considerada estratégica para desarticular o Hamas. O plano prevê uma retirada gradual da população civil antes do envio de reforços terrestres.
Entretanto, a presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Mirjana Spoljaric, advertiu que uma evacuação em massa poderia gerar deslocamentos em proporção que nenhuma área da Faixa de Gaza teria condições de absorver, diante da grave escassez de alimentos, água potável e medicamentos.
Estima-se que metade dos mais de 2 milhões de habitantes do enclave ainda esteja concentrada na Cidade de Gaza, embora milhares já tenham buscado refúgio em regiões do centro e do sul.
Crescem protestos em Israel
Enquanto isso, a pressão interna sobre o governo israelense aumenta. Milhares de pessoas foram às ruas de Tel Aviv no sábado (30) pedindo um cessar-fogo imediato e a libertação dos reféns. Familiares das vítimas sequestradas também protestaram em frente às residências de ministros neste domingo.
O Exército israelense advertiu que a ofensiva pode comprometer a segurança dos reféns ainda mantidos pelo Hamas. Segundo estimativas oficiais, dos 48 cativos restantes, apenas 20 estariam vivos.
A guerra teve início em 7 de outubro de 2023, quando ataques coordenados do Hamas no sul de Israel deixaram mais de 1,2 mil mortos e 251 pessoas sequestradas. Em resposta, a ofensiva israelense já causou quase 63 mil mortes em Gaza, de acordo com dados do Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas. Israel questiona esses números.
Ainda neste domingo, o mesmo ministério informou que sete pessoas morreram de desnutrição, elevando para 339 o total de vítimas fatais por fome desde o início do conflito, entre elas 124 crianças.
Morte de porta-voz das Brigadas al-Qassam
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, confirmou a morte de Abu Obeida, histórico porta-voz das Brigadas al-Qassam, braço militar do Hamas. O ataque teria ocorrido na Cidade de Gaza, um dia após os militares anunciarem a ofensiva contra um alto dirigente do grupo.
Até o momento, o Hamas não confirmou a morte do seu porta-voz, classificando os relatos como parte de uma estratégia de “guerra psicológica” de Israel.
Obeida, conhecido por aparecer mascarado em mensagens públicas, era uma das figuras mais emblemáticas da comunicação do Hamas. Desde outubro, Israel já eliminou outros líderes da facção, incluindo Yahya Sinwar, apontado como mentor dos ataques de 2023.
Discussões sobre anexação da Cisjordânia
Paralelamente, autoridades israelenses revelaram à agência Reuters que o governo considera a possibilidade de avançar na anexação da Cisjordânia ocupada. A medida seria uma resposta ao recente reconhecimento do Estado Palestino por países como a França.
A proposta deve ser debatida na reunião do gabinete de segurança liderado por Netanyahu. Segundo as fontes, ainda não está definido se a eventual anexação abrangeria todos os assentamentos ou apenas áreas estratégicas, como o Vale do Jordão.
Especialistas avaliam que qualquer passo nessa direção geraria forte reação internacional, sobretudo de países árabes e da União Europeia. Também não está clara a posição dos Estados Unidos, presididos por Donald Trump, em relação ao tema.
Até o momento, o gabinete de Netanyahu não se manifestou sobre o assunto.