Decisão do gabinete de segurança amplia ofensiva militar em meio a tensões internas e alerta da ONU sobre crise humanitária
Ocupação militar avança em Gaza
O gabinete de segurança de Israel autorizou, nesta quinta-feira (7), a ocupação da Cidade de Gaza pelas Forças de Defesa do país, como parte de uma estratégia mais ampla para desarticular o Hamas. A medida foi aprovada horas após o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu reiterar, em entrevista à emissora americana Fox News, a intenção de expandir a presença militar israelense por toda a Faixa de Gaza.
De acordo com nota oficial do governo, a operação faz parte do plano para “derrotar o Hamas” e prevê a retirada da população civil das áreas de conflito. Estima-se que cerca de 800 mil pessoas vivam atualmente na Cidade de Gaza. A ação deve restringir ainda mais o espaço disponível para os cerca de 2 milhões de habitantes da região.

Cinco exigências para encerrar o conflito
Além da ofensiva militar, o gabinete aprovou uma lista com cinco condições que Israel pretende impor como pré-requisito para um eventual cessar-fogo. As exigências incluem:
- O desarmamento completo do Hamas;
- A libertação dos 50 reféns ainda em cativeiro, dos quais 20 estariam vivos;
- A desmilitarização total da Faixa de Gaza;
- A manutenção do controle de segurança por parte de Israel sobre o território;
- A formação de um novo governo civil em Gaza, sem envolvimento do Hamas ou da Autoridade Palestina.
Divisão entre governo e Exército agrava crise política
A decisão por uma ocupação militar não foi unânime. Conforme publicado pelo jornal The Times of Israel, um plano alternativo — supostamente apresentado pelo chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir — foi rejeitado. Zamir teria alertado para o risco de um colapso humanitário e para o perigo à vida dos reféns israelenses ainda mantidos pelo Hamas, caso a ofensiva se estendesse por todo o território.
A discordância entre o premiê e o alto comando militar tem alimentado uma crise dentro do próprio governo. Em uma reunião na última terça-feira (5), Netanyahu teria defendido o controle total da Faixa de Gaza, mesmo diante dos alertas de Zamir sobre as consequências de tal decisão.
A tensão provocou reações inflamadas de aliados do primeiro-ministro. Yair Netanyahu, filho do premiê, insinuou nas redes sociais a possibilidade de um “golpe” contra seu pai. Já o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, cobrou publicamente submissão do comando militar às decisões do governo.
Lideranças do Hamas reagem e ONU alerta para agravamento da crise humanitária
Representantes do Hamas reagiram com dureza à nova ofensiva israelense. Em declaração à emissora Al Jazeera, afirmaram que qualquer governo civil imposto por Israel será tratado como uma “extensão das forças de ocupação”. A facção também acusou Netanyahu de colocar os reféns em risco em troca de ganhos políticos.
A Organização das Nações Unidas (ONU) classificou a possível ampliação das operações militares em Gaza como “profundamente alarmante”. Segundo o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), 87,8% do território está sob ordens de evacuação ou áreas militarizadas, obrigando mais de 2 milhões de civis a se concentrarem em apenas 12% da Faixa de Gaza — uma das regiões mais densamente povoadas do planeta.
Fome, deslocamento forçado e colapso social
Dados recentes da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), iniciativa apoiada pela ONU, indicam que Gaza enfrenta “o pior cenário possível” de insegurança alimentar. Uma em cada três pessoas estaria passando dias inteiros sem acesso a qualquer alimento.
O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, informou que quase 200 palestinos morreram de fome desde o início da guerra — quase metade das vítimas são crianças. A maioria da população já foi deslocada múltiplas vezes nos últimos 22 meses de conflito.
Zamir responde a críticas e reforça compromisso institucional
Apesar das pressões internas, o chefe do Exército, Eyal Zamir, afirmou que continuará se posicionando de forma “pragmática, independente e profissional”. Em sua primeira declaração pública desde que assumiu o posto, em março, Zamir destacou que as decisões militares envolvem “questões de vida ou morte” e reafirmou que suas ações têm como único objetivo “a segurança do Estado de Israel”.