AIEA declara formalmente violação do país ao acordo de não proliferação; estoque de urânio já permite potencial para armas atômicas
Pela primeira vez em duas décadas, o conselho de governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) declarou que o Irã está violando suas obrigações no âmbito do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). A resolução foi aprovada por 19 dos 35 membros do colegiado, incluindo Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha.
A decisão reacende os alertas da comunidade internacional sobre os riscos de o Irã desenvolver uma bomba atômica. O texto cita falhas do regime em fornecer explicações completas sobre materiais e atividades nucleares não declarados.
Estoque de urânio se aproxima de grau militar
Relatório recente da AIEA revelou que o Irã acumulou urânio enriquecido a 60% de pureza — um nível próximo ao necessário para uso militar, que é de 90%. A quantidade já seria suficiente, segundo estimativas do próprio órgão, para produzir até nove ogivas nucleares.
Embora a constituição de uma bomba nuclear dependa também de tecnologia de detonação e miniaturização, o volume de material físsil coloca o país em uma zona crítica de atenção. Ainda assim, Teerã mantém a narrativa de que seu programa nuclear é voltado exclusivamente para fins civis e pacíficos.
Acordo nuclear de 2015 foi progressivamente desmantelado
Em 2015, o Irã assinou um acordo com potências globais — incluindo os EUA — que restringia seu programa nuclear e previa inspeções rigorosas da AIEA em troca da suspensão de sanções econômicas. O pacto, conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), foi considerado um marco diplomático.
No entanto, em 2018, o então presidente norte-americano Donald Trump retirou unilateralmente os Estados Unidos do acordo, sob o argumento de que as limitações impostas não eram suficientes para impedir a obtenção de uma arma nuclear. As sanções foram restabelecidas e, desde 2019, o Irã passou a descumprir gradualmente os termos do acordo.
AIEA não descarta desvio para fins militares
Diante do atual nível de enriquecimento e da falta de transparência do regime iraniano, a AIEA declarou que já não é possível confirmar se o material nuclear não foi desviado para uso militar. A ausência de respostas do governo iraniano sobre locais suspeitos e a recusa em cooperar com inspetores da agência agravam a preocupação internacional.
A situação ocorre em meio à intensificação das tensões no Oriente Médio, especialmente após os recentes ataques israelenses a instalações nucleares iranianas, o que reforça o temor de um conflito direto envolvendo a questão nuclear.