Sem acesso ao antídoto ideal, médicos utilizaram vodca com 40% de etanol durante quatro dias, em protocolo reconhecido para emergências
O comerciante Cláudio Crespi, de 55 anos, recebeu alta neste domingo (12) após quase duas semanas de internação em um hospital de São Paulo. O paciente foi diagnosticado com intoxicação por metanol e submetido a tratamento emergencial com vodca russa, utilizada como alternativa ao antídoto oficial, o fomepizol. Durante o período de internação, ele precisou realizar hemodiálise e perdeu parte da visão.
“Muita gratidão a Deus, aos médicos e a todos que torceram pela recuperação. Agora é dar continuidade no tratamento da visão e confiamos nas autoridades públicas para que faça o que for preciso para que não haja mais vítimas”, afirmou Crespi após a alta.
O caso ocorreu em 26 de setembro, quando o comerciante passou mal após consumir vodca adulterada em um bar. No dia seguinte, foi levado à UPA da Vila Maria, onde uma médica suspeitou de envenenamento por metanol. O hospital, porém, não dispunha do antídoto adequado.
Vodca como alternativa emergencial
A solução partiu da família. Sua sobrinha, Camila Crespi, levou de casa uma garrafa de vodca russa de 40% de etanol, que estava guardada apenas como item decorativo. “O hospital não tinha o antídoto. Eu fui buscar uma vodca em casa. Estava fechada. Eu e meu marido não bebemos, e a vodca russa estava em casa fechada e pronta para o meu tio usar”, relatou Camila.
Os médicos aplicaram a bebida por quatro dias em ambiente controlado, o que ajudou a estabilizar o quadro clínico. “A hemodiálise que fez a diferença”, completou ela.
Crespi chegou a ficar em estado grave, e familiares chegaram a se despedir no hospital. No entanto, em 2 de outubro, ele acordou do coma e, dias depois, foi transferido da UTI para a enfermaria. Ainda em recuperação, o comerciante relata as sequelas.
“Os meus sintomas agora: um pouco só de respiração e a visão, que eu tenho só 10%. Mas eu fiquei sem falar, sem andar. Fiquei debilitado totalmente. Eu sei que ganhei uma vida nova”, declarou.
Protocolo reconhecido
A Secretaria Municipal da Saúde confirmou que o Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica) recomendou o uso de bebida alcoólica por sonda, um procedimento reconhecido internacionalmente e utilizado em emergências médicas com bons resultados.
O hepatologista Rogério Alves, da Sociedade Brasileira de Hepatologia, explica que o metanol é altamente tóxico, podendo causar cegueira e até morte. “Os principais antídotos são o fomepizol, que é o ideal, e o etanol, usado quando o fomepizol não está disponível. Ele bloqueia a enzima do fígado que transforma o metanol em veneno”, afirmou.
Nesta semana, o Ministério da Saúde recebeu mais de 2 mil doses de fomepizol, que estão sendo distribuídas a hospitais de referência em todo o país. O medicamento só pode ser administrado sob supervisão médica especializada.
Até o momento, São Paulo registra 25 casos confirmados de intoxicação por metanol, com cinco mortes confirmadas e 160 casos sob investigação, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde.
(Fonte: Diário do Litoral)