Com poucos sintomas aparentes, pressão alta exige atenção e pode levar a falência renal e outras complicações graves
Embora amplamente conhecida, a hipertensão arterial — popularmente chamada de pressão alta — continua sendo uma das principais causas de morte no Brasil. Entre 2006 e 2016, mais de 489 mil óbitos foram registrados no país em decorrência dessa condição, segundo o Ministério da Saúde. A ausência de sintomas evidentes, em muitos casos, faz com que o problema evolua silenciosamente, tornando-se um fator de risco relevante para doenças como infarto, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca e falência renal.
Em alusão ao Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão, celebrado em 26 de abril, o cardiologista Luciano Drager, do Hospital Sírio-Libanês, reforça a necessidade de ações preventivas contínuas. “A pressão alta pode não causar sintomas por muito tempo, e quando se manifesta, muitas vezes já está em estágio avançado. Por isso, é fundamental aferir a pressão regularmente, manter uma alimentação com baixo teor de sal e praticar atividade física com frequência, de preferência sob a supervisão de um profissional de saúde”, orienta o especialista.
A hipertensão é caracterizada pela elevação persistente da pressão arterial. Em adultos, é diagnosticada quando os valores se mantêm iguais ou superiores a 140 mmHg na pressão sistólica (a chamada pressão máxima) e 90 mmHg na diastólica (a mínima). A pressão sistólica corresponde à força do bombeamento cardíaco, enquanto a diastólica indica a pressão nas artérias entre os batimentos.
“Quando a pressão está elevada, o coração precisa trabalhar mais do que o normal para garantir a circulação sanguínea adequada pelo corpo”, explica o cardiologista.
Mitos e verdades sobre hipertensão
Apesar de sua relevância para a saúde pública, diversos mitos cercam o diagnóstico e o tratamento da hipertensão. A seguir, esclarecemos os principais equívocos sobre o tema:
1. Apenas idosos desenvolvem hipertensão.
Mito. Embora mais comum com o avanço da idade, a hipertensão pode surgir em qualquer fase da vida, inclusive na infância. Casos de hipertensão precoce, antes dos 30 anos, podem estar relacionados a doenças como obstrução das artérias renais ou apneia do sono. Além disso, fatores como estresse, ansiedade, depressão, insônia, obesidade e consumo excessivo de sal também contribuem para o aumento da pressão entre os jovens.
2. A pressão alta apresenta sintomas evidentes.
Outro mito. Na maior parte dos casos, a hipertensão é assintomática, razão pela qual é conhecida como “doença silenciosa”. Um dos equívocos mais comuns é associar a dor de cabeça à pressão alta, quando, na verdade, a dor pode elevar momentaneamente a pressão, e não o contrário. Sintomas mais graves, como dor súbita no peito ou fraqueza em um dos lados do corpo, podem indicar infarto ou AVC, complicações diretamente ligadas à hipertensão.
3. Aferir a pressão no consultório é suficiente para diagnóstico.
Parcialmente verdadeiro. A aferição em consultório é importante, mas pode não refletir a realidade. Alguns pacientes apresentam pressão elevada apenas em ambientes médicos, fenômeno conhecido como hipertensão do avental branco. Por isso, exames como a Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA), que acompanha os níveis de pressão por 24 horas, e a Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA), feita em casa, são fundamentais para confirmar o diagnóstico.
4. A hipertensão não tem relação com fatores genéticos.
Falso. A hereditariedade desempenha papel significativo no risco de desenvolver hipertensão. Pessoas com histórico familiar da condição apresentam maior propensão a ter pressão alta ao longo da vida. Assim, a presença de casos na família deve ser um alerta para reforçar os cuidados com alimentação, atividade física e monitoramento regular da pressão.
5. Alimentação equilibrada e exercícios físicos bastam para controlar a hipertensão.
Nem sempre. Embora mudanças no estilo de vida — como reduzir o sal, praticar exercícios físicos, perder peso e moderar o consumo de álcool — sejam fundamentais no controle da pressão arterial, muitos pacientes precisam recorrer a medicamentos para alcançar níveis adequados. A combinação entre tratamento médico e hábitos saudáveis costuma ser mais eficaz, especialmente nos casos mais severos.
Importância do diagnóstico precoce
Monitorar regularmente os níveis de pressão arterial e adotar um estilo de vida saudável são medidas essenciais para prevenir complicações graves. Mesmo sem sintomas, a hipertensão pode evoluir silenciosamente, reforçando a importância de buscar acompanhamento médico periódico.
“O diagnóstico precoce é fundamental para iniciar o tratamento no momento certo e evitar problemas como infarto e AVC. Com orientação adequada, é possível controlar a pressão e manter uma boa qualidade de vida”, conclui Luciano Drager.
