Grupo exige corredores humanitários e suspensão de bombardeios em troca de assistência aos cativos; pressão interna e internacional cresce sobre Netanyahu
Exigência por corredores humanitários
O Hamas condicionou a entrega de alimentos e medicamentos aos reféns israelenses à abertura de corredores humanitários e à suspensão dos bombardeios na Faixa de Gaza. Segundo um porta-voz do grupo, a Cruz Vermelha poderá prestar assistência às vítimas sob custódia apenas se Israel autorizar o envio contínuo e abrangente de ajuda humanitária ao território palestino, além de interromper os ataques durante a distribuição.
A declaração ocorre em meio à repercussão de vídeos divulgados recentemente que mostram reféns em estado avançado de desnutrição, o que mobilizou a opinião pública israelense e levou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a solicitar apoio ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
“Não há privilégios”, afirma braço militar do Hamas
As Brigadas Al-Qassam, ala armada do Hamas — classificada como organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia, Alemanha e outros países —, negaram ter privado intencionalmente os reféns de alimentos. Alegaram, no entanto, que não concedem tratamento diferenciado diante da fome generalizada provocada pelo bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza.
Entre as imagens que geraram comoção, está a gravação de Evyatar David, 24 anos, forçado a cavar o que descreve como sua “própria cova” em um túnel estreito. Ele relata ter passado dias se alimentando apenas de feijão ou lentilhas, ou mesmo sem acesso a qualquer comida.
O CICV afirmou estar “chocado com os vídeos perturbadores” e reiterou o apelo para ter acesso imediato aos reféns, com o objetivo de fornecer cuidados médicos e alimentação.
Governo israelense diz manter negociações
Em resposta às imagens, o gabinete de Netanyahu divulgou nota informando que o premiê conversou com familiares de dois reféns retratados nos vídeos e garantiu que os esforços para o resgate de todos os cativos estão em curso.
Dos 251 israelenses sequestrados durante o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, 49 permanecem em poder do grupo. Segundo as autoridades israelenses, 27 desses reféns já estariam mortos.
Cresce a pressão interna e externa por solução
Milhares de pessoas voltaram às ruas de Tel Aviv no fim de semana para cobrar do governo ações concretas para a libertação dos reféns. Familiares expressaram frustração com o que consideram estagnação nas negociações.
Os vídeos divulgados pelo Hamas reforçam a demanda por cessar-fogo imediato e ampliação da ajuda humanitária, em meio à pior crise alimentar já registrada na Faixa de Gaza.
O Conselho de Segurança da ONU deve realizar, nesta terça-feira, uma sessão emergencial para tratar da situação dos reféns. A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, declarou que os vídeos “expõem a barbárie do Hamas” e defendeu o desarmamento da organização e o fim de seu domínio sobre Gaza.
Ex-oficiais apelam a Trump e criticam Netanyahu
Um grupo formado por 550 ex-membros das forças de segurança israelenses — incluindo antigos chefes de inteligência, militares e diplomatas — publicou uma carta conjunta dirigida ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O grupo pede que Washington pressione Netanyahu a pôr fim à ofensiva militar em Gaza, argumentando que o Hamas já não representa uma ameaça estratégica ao país.
“Israel tem plenas condições de lidar com os resquícios da capacidade terrorista do Hamas. Mas os reféns não podem mais esperar”, diz o documento.
Para Ami Ayalon, ex-diretor do Shin Bet (serviço de segurança interna de Israel), o conflito perdeu sua legitimidade. “Esta guerra deixou de ser justa e está fazendo Israel perder sua identidade”, afirmou em vídeo.
Avanço da fome e relatos de mortes em Gaza
Diversas organizações internacionais têm alertado para a escalada da crise humanitária em Gaza. A entrada de ajuda humanitária segue severamente restringida por Israel, e há relatos crescentes de mortes por fome.
Somente no último domingo, autoridades de saúde em Gaza relataram cinco mortes de adultos causadas por desnutrição. Desde o início da guerra, ao menos 180 pessoas — incluindo 93 crianças e adolescentes — já morreram devido à escassez de alimentos, segundo dados locais considerados confiáveis pela ONU.
Além disso, outras 14 pessoas teriam morrido enquanto esperavam para receber comida em dois pontos distintos de distribuição. Em um dos locais, segundo relato à agência AFP, soldados israelenses teriam disparado contra civis.
Balanço da guerra
O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 matou 1.219 pessoas em Israel, majoritariamente civis, conforme dados oficiais. A ofensiva israelense subsequente já deixou mais de 60.400 mortos na Faixa de Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde do território, número reconhecido como confiável por agências da ONU.