Ministro da Fazenda atribui decisão a militância ligada à Casa Branca e a declarações de Eduardo Bolsonaro, e critica impacto do tarifaço de 50% imposto por Donald Trump a produtos brasileiros
Encontro cancelado após pressão política
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (11) que a reunião virtual com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, foi cancelada por influência de militantes ligados à Casa Branca. O encontro estava marcado para ocorrer nesta quarta-feira (13), mas, segundo Haddad, não há nova data definida.
A reunião era considerada estratégica por integrantes do governo e por executivos do setor privado, que viam na conversa uma oportunidade para reduzir tensões comerciais provocadas pela tarifa de 50% imposta pelo presidente norte-americano, Donald Trump, sobre produtos brasileiros em julho.
Segundo o ministro, as tratativas para o diálogo começaram em 21 de julho, logo após o anúncio do tarifaço, mas foram interrompidas na última semana. Dois dias depois de confirmar publicamente o encontro, Haddad soube do cancelamento, que foi justificado oficialmente por “falta de agenda”. Ele classificou a alegação como “inusitada”.
Acusações contra Eduardo Bolsonaro
Haddad relacionou diretamente o cancelamento a declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que, segundo ele, teria manifestado publicamente a intenção de evitar qualquer aproximação entre os dois governos.
“Não há como não associar um fato ao outro. Não se trata de coincidência”, declarou. Para o ministro, a postura do parlamentar prejudica o país: “Estão colocando vaidade pessoal acima do interesse nacional. É incompreensível essa atitude”.
O chefe da equipe econômica disse ainda que, sem medidas para conter a atuação de Bolsonaro nos Estados Unidos, “vai ficar difícil” manter canais de negociação. Ele defendeu que o Congresso Nacional avalie providências.
Relações comerciais e divergências políticas
O ministro recordou que, em maio, antes da aplicação da sobretaxa de 40% ao Brasil, Bessent havia demonstrado desconforto até mesmo com a tarifa de 10% anunciada em abril e sinalizado abertura para negociações. Ele ressaltou que outros países sul-americanos, como o Uruguai, não enfrentam pressões políticas semelhantes.
Haddad também rebateu a sugestão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de que uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Trump poderia resolver a questão. “Não é assim que funciona. Conversas entre chefes de Estado exigem preparação prévia”, afirmou.
Segundo ele, Lula já mantém diálogos com líderes de países como Rússia, Índia e México, e deve discutir o tema com a China. O ministro frisou que os BRICS têm importância estratégica, mas que o Brasil precisa diversificar seus parceiros comerciais: “Não é só dos BRICS que o Brasil vive”.
Pacote de medidas contra o tarifaço
Haddad reiterou que o pacote de apoio aos setores mais prejudicados pela medida norte-americana será anunciado em breve e respeitará a meta fiscal. Entre as propostas, estão uma linha emergencial de financiamento para empresas diretamente afetadas e a compra governamental de produtos que perderam mercado, sobretudo perecíveis como pescados, frutas e mel.
O objetivo, segundo técnicos do governo, é mitigar perdas e evitar que a produção excedente cause prejuízos ainda maiores.
Impacto comercial
A sobretaxa de 50% — resultado da soma de uma tarifa de 40% aplicada em julho aos 10% anunciados em abril — passou a valer na última quarta-feira (6). A medida não incide sobre cerca de 700 produtos da pauta de exportações, mas deve afetar aproximadamente 36% do total exportado aos EUA, incluindo itens como carne, café e frutas.
Para Haddad, a nova tarifa pode até ter efeito deflacionário no Brasil: “Não vejo risco para a inflação neste caso. Ao contrário, acredito que possamos observar impactos positivos nesse aspecto”.