Medida busca reduzir impacto de tarifa de 50% e proteger setores estratégicos
O governo federal deve apresentar nesta semana um plano de contingência para atenuar os efeitos do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre uma série de produtos brasileiros. A iniciativa é coordenada pelo Ministério da Fazenda e pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em parceria com outras pastas da Esplanada, e foi entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última quarta-feira (6).
Segundo o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, o anúncio pode ocorrer já nesta terça-feira (12). Ele conduz as negociações com o governo norte-americano e mantém interlocução direta com os setores exportadores mais atingidos.
“O principal objetivo do plano é manter os empregos dos trabalhadores”, afirmou Alckmin.
Possíveis medidas em estudo
Entre as ações avaliadas estão:
- Compra de alimentos perecíveis que perderiam mercado externo, destinando-os à merenda escolar da rede pública;
- Auxílio emergencial temporário, inspirado no modelo adotado durante a pandemia de Covid-19 em 2020;
- Apoio logístico e financeiro para redirecionar exportações a outros mercados.
O vice-presidente ressaltou que o plano será calibrado conforme a dependência setorial do mercado norte-americano, citando o caso do Ceará, cuja pauta exportadora é fortemente concentrada no segmento de pescados.
Ainda de acordo com Alckmin, a meta é ampliar as exclusões da tarifa e reduzir alíquotas específicas.
“Mais da metade das exportações brasileiras foram excluídas, sendo que 45% estão fora da ordem executiva, em torno de 18% estão na seção 2-3-2, igual à nossa alíquota e ao mundo. Isso não perde a competitividade. Mas em torno do 37% a 38% — aí fica 10% mais 40% —, é um nível de alíquota altíssima”, explicou.
Negociação diplomática em andamento
Apesar da vigência da medida, o governo brasileiro busca abrir espaço para o diálogo com Washington. Alckmin argumenta que a decisão do ex-presidente Donald Trump traz prejuízos também para os Estados Unidos.
“É uma coisa ruim também para os Estados Unidos, que vão encarecer os produtos americanos, romper cadeias produtivas. Se você pegar o caso do aço, nós somos o terceiro importador do carvão siderúrgico. Fazemos o aço semiplano e vendemos para os Estados Unidos, que fazem o automóvel, a máquina, o equipamento, o avião. Então, você tem uma cadeia que acaba sendo encarecida”, afirmou.
Na última quinta-feira (7), o vice-presidente se reuniu com Gabriel Escobar, encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, apresentando possibilidades de cooperação em áreas como data centers, big techs e minerais estratégicos.
Impactos econômicos e alcance do tarifaço
A tarifa de 50% começou a valer em 6 de agosto, por ordem executiva assinada por Trump. A justificativa da Casa Branca de que o Brasil representa uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional e à economia americana é contestada por Brasília.
Estima-se que 35,9% das exportações brasileiras para os EUA serão afetadas. Ficaram de fora do tarifaço produtos como suco de laranja, aeronaves civis, petróleo, veículos e peças, fertilizantes e produtos energéticos.
Histórico das relações comerciais Brasil-EUA
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2024, o fluxo bilateral ultrapassou US$ 100 bilhões, com destaque para exportações brasileiras de aço, produtos agrícolas, combustíveis e aeronaves.
O novo tarifaço reacende tensões que já marcaram o relacionamento econômico entre os dois países, como ocorreu em 2018, quando Washington impôs cotas e sobretaxas ao aço e ao alumínio brasileiros.
Impactos regionais
Estados como Minas Gerais, Espírito Santo, Ceará e Paraná tendem a sentir os efeitos mais severos. O primeiro, pela exportação de produtos siderúrgicos; o segundo, pelo café e o aço; o Ceará, pelos pescados; e o Paraná, pela produção de carnes e grãos.
Segundo especialistas, regiões com cadeias produtivas fortemente integradas ao mercado norte-americano terão mais dificuldade para redirecionar exportações, tornando o plano de contingência essencial para mitigar prejuízos.
Próximos passos
O governo brasileiro espera que as negociações diplomáticas, aliadas às medidas internas de apoio, reduzam os efeitos imediatos do tarifaço e preservem empregos. Enquanto isso, empresas exportadoras avaliam estratégias para diversificar mercados e manter competitividade.