Votação sobre a aplicação da Lei de Reciprocidade é suspensa em meio à expectativa de diálogo entre os presidentes
Decisão adiada no mesmo dia de aceno diplomático
O governo brasileiro suspendeu o processo de aplicação da Lei de Reciprocidade contra os Estados Unidos no mesmo dia em que Donald Trump fez um gesto público de aproximação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a Assembleia-Geral da ONU.
A deliberação estava prevista para a última terça-feira (23), em reunião do Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão responsável por avaliar a adoção de medidas contra tarifas impostas por Washington. No entanto, a votação não ocorreu, a pedido do próprio governo, antes do início do encontro.
Expectativa de diálogo entre Lula e Trump
A suspensão do processo coincide com a sinalização de um possível diálogo entre os dois presidentes. Segundo o chanceler Mauro Vieira, em entrevista à CNN, a conversa deve ocorrer por telefone ou videoconferência, embora Lula não tenha descartado um encontro presencial.
Trump relatou ter trocado rápidas palavras com Lula antes de seu discurso na ONU e disse ter sentido “excelente química” com o petista: “Eu só faço negócios com pessoas de quem eu gosto, e gostei dele”, declarou.
Divergências internas no governo
Segundo técnicos envolvidos na discussão, havia divergência dentro do Gecex sobre a melhor estratégia. Uma ala defendia o avanço da medida diante das dificuldades de negociação com os americanos, enquanto outra alertava para o risco de novas sanções contra o Brasil e preferia aguardar os desdobramentos políticos.
A avaliação é que a disposição do governo Trump em abrir negociações pode retardar a aplicação da Lei de Reciprocidade. Caso contrário, o tema deve voltar à pauta.
Próximos passos da Lei de Reciprocidade
Em agosto, o Itamaraty solicitou à Camex a abertura do processo de retaliação contra os EUA, após a imposição de tarifas unilaterais às exportações brasileiras. O Gecex chegou a preparar um relatório com análises econômicas e jurídicas sobre o impacto da medida, mas o item acabou adiado.
O documento, segundo registro oficial da reunião, reúne contribuições de diferentes pastas e avalia se as tarifas americanas configuram violação às normas internacionais de comércio. Caso aprovado, o processo passaria por consulta pública antes da deliberação final do Conselho Estratégico da Camex.
Empresários pressionam por solução negociada
Enquanto isso, grandes grupos empresariais brasileiros têm atuado para aproximar Lula e Trump. A Embraer e a JBS, esta última comandada pelos irmãos Wesley e Joesley Batista, se engajaram em articulações para defender a via diplomática.
Há cerca de três semanas, Joesley Batista esteve com Trump na Casa Branca para discutir a sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros. O empresário defendeu que as diferenças comerciais entre os dois países podem ser superadas pelo diálogo, fortalecendo a ala governista que prefere negociar antes de partir para a retaliação.