Iniciativa busca combater a inflação e melhorar a aprovação do presidente Lula, mas enfrenta desafios fiscais.
O governo federal está estudando a criação de uma rede popular de abastecimento para oferecer alimentos a preços reduzidos, especialmente em regiões periféricas das grandes cidades. A medida, ainda em fase inicial de discussão, visa mitigar os efeitos da inflação e reforçar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo fontes próximas ao tema.
Entre as ideias analisadas está a implantação de um modelo semelhante ao programa “Farmácia Popular”, que subsidia medicamentos para a população de baixa renda. Essa rede permitiria ao governo subsidiar total ou parcialmente os custos dos alimentos, mas a implementação de tal iniciativa levanta preocupações sobre impactos no orçamento público em um momento em que o mercado já questiona o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal.
Uma reunião para aprofundar o tema está marcada para esta sexta-feira, com a presença de Lula e dos ministros da Fazenda, Agricultura e Desenvolvimento Agrário.
Pressão inflacionária e preocupações econômicas
Lula demonstrou crescente preocupação com o impacto da inflação sobre sua popularidade, especialmente na segunda metade de seu mandato. Durante uma reunião ministerial nesta semana, ele solicitou medidas para aliviar a pressão do aumento de preços sobre os trabalhadores.
A inflação acumulada em 2024 foi de 4,83%, superando o teto da meta estipulada, o que obrigou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, a emitir uma carta pública justificando o descumprimento. O cenário tem gerado pessimismo entre consumidores: segundo a pesquisa LatAm Pulse, realizada pela AtlasIntel e divulgada em janeiro pela Bloomberg, 45% dos brasileiros planejam reduzir o consumo nos próximos seis meses.
Impactos climáticos e desafios globais
Autoridades do Ministério da Fazenda atribuíram parte da alta inflacionária a fatores climáticos extremos, como a seca no norte do país e enchentes no Rio Grande do Sul, além de uma desvalorização cambial ocorrida no segundo semestre de 2024. Eventos climáticos similares também afetaram outros países produtores de commodities agrícolas, resultando em choques de oferta.
A demanda global por produtos como carne e café, somada à redução na oferta, contribuiu para a elevação dos preços. A associação da indústria de supermercados, Abras, apresentou propostas ao governo que poderiam ajudar indiretamente a conter os custos, como a flexibilização de contratos de trabalho e a autorização para venda de medicamentos sem receita em supermercados.
Desafios fiscais e riscos ao mercado
O mercado financeiro está atento ao risco de que medidas expansionistas possam pressionar ainda mais a inflação e forçar o Banco Central a elevar a taxa Selic, atualmente em 12,25%. Uma eventual alta dos juros poderia dificultar ainda mais o cenário econômico para a população e os investidores.
A viabilidade da rede popular de alimentos será amplamente debatida nas próximas semanas, enquanto o governo busca soluções para equilibrar o combate à inflação e a manutenção da credibilidade fiscal.
Da Redação/Clicknews/Bloomberg