Com recuo parcial dos EUA, Planalto intensifica articulação diplomática para reverter sobretaxas sobre exportações brasileiras; retaliações são cogitadas, mas seguem em segundo plano
Diálogo como prioridade diante das tarifas dos EUA
Após o anúncio da tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre parte das exportações brasileiras, o Palácio do Planalto decidiu reforçar sua estratégia de negociação com Washington. Embora a possibilidade de retaliação comercial esteja em análise, a ordem entre auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é priorizar o diálogo com a administração de Donald Trump, buscando melhorar as condições para os setores atingidos.
A medida americana foi formalizada na quarta-feira (30), por meio de ordem executiva assinada por Trump. O decreto, no entanto, preserva centenas de exceções, como suco de laranja e aeronaves civis, o que deixou cerca de 45% da pauta exportadora brasileira isenta da tarifa. Ainda assim, aproximadamente 36% das exportações do Brasil aos EUA foram diretamente afetadas, com impacto relevante sobre itens como café, carnes e pescados.
O texto também estabelece que a nova política tarifária entrará em vigor em sete dias — uma brecha temporal que o governo brasileiro pretende usar para tentar novas concessões por parte da Casa Branca.
Nova rodada de negociações está em curso
Na avaliação do Planalto, o momento marca o início de uma segunda fase das negociações. O vice-presidente Geraldo Alckmin, em entrevista a TV Globo, destacou que o processo ainda não foi concluído. “A negociação não terminou”, disse Alckmin, que tem sido um dos principais articuladores do governo nas tratativas com os Estados Unidos.
Paralelamente, o Ministério da Fazenda, liderado por Fernando Haddad, trabalha para reabrir o canal de diálogo com o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent. Os dois já haviam se encontrado pessoalmente em maio, e a equipe econômica brasileira vem tentando agendar uma nova reunião. Segundo Haddad, a assessoria de Bessent fez contato recente e uma nova rodada de conversas deve ser marcada nos próximos dias.
A proposta é que os contatos de Haddad complementem as conversas conduzidas por Alckmin com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Enquanto o vice-presidente foca nos impactos setoriais das tarifas, o ministro da Fazenda pretende discutir iniciativas para destravar a agenda bilateral, incluindo mecanismos financeiros e eventuais compensações comerciais.
Medidas de retaliação seguem como opção, mas não são prioridade
Embora a retaliação por meio da Lei de Reciprocidade não esteja descartada, fontes do governo afirmam que qualquer movimento nessa direção dependerá do desfecho das negociações. O objetivo declarado do Planalto é esgotar todas as possibilidades diplomáticas antes de recorrer a medidas mais duras.
Segundo auxiliares de Lula, os Estados Unidos costumam ceder gradualmente em processos desse tipo. A estratégia, portanto, é insistir em sucessivas rodadas de conversa, apostando em uma solução negociada. A Casa Civil e o Itamaraty estão mapeando a disposição de autoridades americanas para novos encontros.
Plano de resposta interna será reavaliado
Enquanto articula no plano externo, o governo também trabalha internamente para proteger os setores prejudicados. Na manhã de quinta-feira (31), Lula reuniu ministros para reavaliar o plano de contingência que vinha sendo elaborado desde o anúncio das tarifas. A ideia é ajustar o pacote diante do recuo parcial de Trump.
Entre as medidas em estudo estão linhas de crédito subsidiadas, incentivos à manutenção de empregos e ações de suporte à cadeia produtiva. O governo quer evitar que o impacto fiscal da resposta interna comprometa as metas orçamentárias, mas não descarta lançar mão do mesmo mecanismo aplicado no auxílio ao Rio Grande do Sul — que excluiu parte dos gastos do resultado primário das contas públicas.
“Não queremos déficit nenhum. Queremos o menor impacto possível. Segundo, pode excluir do (resultado) primário. Como foi no Rio Grande do Sul, que teve um fato superveniente”, afirmou Alckmin durante sua participação na TV Globo.