Reeleito em 2024, Fuad lutava contra problemas respiratórios após vencer um câncer
O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), morreu nesta quarta-feira (26), aos 77 anos. A informação foi confirmada pela Prefeitura da capital mineira no fim da manhã. Ele estava internado desde o dia 3 de janeiro no Hospital Mater Dei, onde deu entrada com um quadro de insuficiência respiratória aguda.
De acordo com boletim médico, a morte foi causada por complicações decorrentes de um linfoma não Hodgkin, diagnosticado em julho de 2024. Desde então, o prefeito enfrentava sucessivas internações e vinha se recuperando de um tratamento oncológico agressivo. Fuad deixa a esposa, Mônica Drummond, dois filhos e quatro netos.
Ele foi o segundo prefeito da história de Belo Horizonte a morrer no exercício do cargo. O primeiro foi Américo Renné Giannetti, que faleceu em 1954, três anos após tomar posse.
Com a morte, o vice-prefeito Álvaro Damião (União Brasil), que já vinha exercendo interinamente a chefia do Executivo municipal, assume de forma definitiva a gestão pelos próximos quatro anos.
Em nota oficial, a Prefeitura lamentou a perda:
“Em 2022, assumiu o cargo de prefeito da capital mineira, e desde então conduziu a cidade com serenidade, firmeza e espírito público. Fuad era conhecido por seu trato gentil, sua capacidade de escuta e seu amor por Belo Horizonte. Um homem público íntegro, cuja história se confunde com o desenvolvimento da nossa cidade. Neste momento de dor, nos solidarizamos com os familiares, amigos e todos os cidadãos belo-horizontinos que perdem não apenas um líder, mas um exemplo de ser humano. A cidade se despede com gratidão e reverência.”
Internações e cerimônia remota de posse
Em julho de 2024, Fuad anunciou o diagnóstico de linfoma não Hodgkin, mas manteve sua pré-candidatura à reeleição diante do prognóstico positivo. Ao longo da campanha, conciliou os compromissos políticos com o tratamento, que incluía sessões de quimioterapia.
Às vésperas do segundo turno, em outubro, ele afirmou ter sido liberado do protocolo oncológico, com o câncer em remissão. No entanto, complicações decorrentes do tratamento impediram sua participação presencial tanto na diplomação quanto na posse, no dia 1º de janeiro. Fuad participou da cerimônia de forma remota, usando máscara e ao lado da esposa, em função de recomendação médica para evitar aglomerações.
O discurso de posse foi lido pelo vice-prefeito Álvaro Damião. Em uma das passagens, Fuad escreveu:
“Muita gente tem me perguntado o porquê de estar aqui, um homem de 77 anos disputar uma pesada eleição em vez de curtir os netos, ficar com a família no sítio ou viajar. […] A resposta é muito simples, estou aqui por muito amor a essa cidade e a sua gente.”
O vice chorou ao ler o trecho em que o prefeito agradecia aos médicos e à família.
Trajetória técnica e política
Economista de formação, Fuad Noman era servidor de carreira do Banco Central. Atuou como secretário em diferentes gestões no governo de Minas Gerais — sob os comandos de Aécio Neves e Antonio Anastasia — além de ocupar a Casa Civil da Presidência da República durante o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Em 2022, assumiu a Prefeitura de Belo Horizonte após a renúncia de Alexandre Kalil (PSD), que deixou o cargo para disputar o governo estadual. Com perfil técnico e discreto, Fuad herdou uma gestão marcada por tensões com a Câmara Municipal. Durante sua administração, foram abertas CPIs para apurar contratos de serviços públicos, como o transporte coletivo e a limpeza da Lagoa da Pampulha.
Apesar das dificuldades políticas, destacou como vitrine de sua gestão a ausência de mortes causadas por enchentes em Belo Horizonte — um problema crônico da capital mineira, que voltou a registrar óbitos no fim de 2024.
Campanha de reeleição e polêmicas
Nas eleições municipais de 2024, Fuad enfrentou o desafio de se tornar conhecido do grande público, já que sua figura contrastava com o estilo mais midiático de Kalil. Utilizou como marca pessoal o uso constante de suspensórios e colou sua imagem às obras de infraestrutura em andamento na cidade.
No segundo turno, venceu o deputado estadual Bruno Engler (PL) por 53,73% a 46,27% dos votos, apresentando-se como um político conciliador, com disposição para o diálogo com diferentes esferas de poder — do governador Romeu Zema (Novo) ao presidente Lula (PT).
Durante a campanha, foi alvo de ataques por conta do livro de ficção “Cobiça”, publicado em 2020, que opositores tentaram vincular a temas de apologia ao estupro. A Justiça Eleitoral determinou a retirada do conteúdo das redes sociais e da televisão.
Após a vitória, declarou que sua eleição simbolizava “a vitória do amor, do trabalho e do consenso na capital mineira”. Em entrevista à Folha de S.Paulo, afirmou que suas prioridades seriam a modernização do transporte público e a redução de mortes no anel rodoviário da cidade.
Linha do tempo da saúde de Fuad Noman
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29.mar.2022 – Assume como prefeito após renúncia de Alexandre Kalil
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4.jul.2024 – Anuncia diagnóstico de linfoma não Hodgkin
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6.out.2024 – Vai ao segundo turno com 26,54% dos votos
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27.out.2024 – É reeleito com 53,73% dos votos
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23.nov.2024 – Internado com dores nas pernas
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10.dez.2024 – Nova internação com pneumonia
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19.dez.2024 – Internado na UTI por diarreia e desidratação
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1º.jan.2025 – Toma posse remotamente
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3.jan.2025 – Internado novamente com insuficiência respiratória
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9.jan.2025 – Passa por traqueostomia
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29.jan.2025 – Deixa a UTI, mas segue hospitalizado
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25.mar.2025 – Sofre parada cardiorrespiratória
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26.mar.2025 – Morre aos 77 anos