Por Wilton Emiliano Pinto *
Aqui repousam, silenciosos,
os fragmentos esculpidos pelo tempo e pela água, pedaços do mar da Bahia,
mais precisamente de Arraial d’Ajuda,
onde a areia quente acolhe os passos
e o céu parece sempre azul demais para ser real.
Cada forma, uma história.
Cada poro, um abrigo que já foi vida,
cada aresta, um contorno que o sal, o vento e a maresia suavizaram.
Separados, seriam apenas vestígios dispersos,
mas juntos, desenham uma harmonia natural –
um pequeno arquipélago de memórias,
um mapa secreto das profundezas,
um relicário de dias luminosos.
Ali, naquele pedaço encantado da Bahia,
o mar respira preguiçoso nas manhãs de calmaria, desenhando rendas de espuma
sobre os recifes.
As falésias avermelhadas, imponentes e silenciosas, guardam em sua altura a eternidade das paisagens, enquanto os coqueiros balançam suavemente,
como quem abençoa quem passa.
E foi ali, entre o calor do sol e o frescor da brisa,
que esses fragmentos foram colhidos —
não apenas com as mãos, mas com o olhar atento, com a alma aberta para o encanto do que é simples e eterno.
Neles se guardam os mistérios do oceano,
a força paciente que molda,
a dança eterna entre rigidez e fluidez,
o vai e vem que nunca cessa,
o sopro vital que atravessa séculos e gerações.
Tocá-los é sentir a textura do tempo,
é ouvir, mesmo em silêncio,
o rumor das ondas quebrando nos corais,
o sussurro do vento entre as folhas dos coqueiros,
o chamado doce da imensidão baiana
que convida sempre a ir além,
a ser mar, areia, pedra, memória.
Assim permanecem, aqui e agora:
presentes, serenos,
lembrando que a beleza não está na perfeição,
mas na história que cada forma carrega,
na harmonia que só se revela no conjunto
— e, sobretudo, na memória viva daquele lugar especial,
Arraial d’Ajuda,
onde a natureza e o espírito se encontram,
e deixam marcas que nunca mais se apagam.
