A desnutrição agrava-se na Faixa de Gaza, com crianças e trabalhadores humanitários entre as vítimas. ONU e organizações denunciam a escassez de ajuda e a violência nos esforços de distribuição.
O impacto devastador da desnutrição em Gaza
Nas últimas 24 horas, um bebê de apenas seis semanas foi registrado entre os 15 palestinos que perderam a vida devido à desnutrição na Faixa de Gaza, conforme dados divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Este é apenas um dos 33 palestinos, incluindo 12 crianças, que morreram nos dois últimos dias devido à fome no território. Desde o início da guerra, em outubro de 2023, a desnutrição já causou a morte de 101 palestinos, entre eles 80 crianças e adolescentes.
A situação é crítica, com relatos de médicos, enfermeiros, jornalistas e trabalhadores humanitários também sofrendo com a falta de alimentos. Philippe Lazzarini, chefe da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), relatou nesta terça-feira que sua equipe e outros profissionais de saúde têm desmaiado devido à fome e exaustão, em meio à crescente escassez de recursos.
A escassez de alimentos e os desafios humanitários
Em entrevista à BBC, o médico Mohammed Abu Salmiya, diretor do hospital Shifa, na Cidade de Gaza, informou que 21 crianças morreram devido à desnutrição nas últimas 72 horas. Ele alertou para o risco elevado de morte de pacientes diabéticos e renais, agravado pela fome generalizada. Estima-se que aproximadamente 900 mil crianças em Gaza estejam sofrendo com a falta de alimentos, com 70 mil delas em estado grave de desnutrição.
Khalil al-Deqran, porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, indicou que cerca de 600 mil pessoas no território enfrentam desnutrição, incluindo 60 mil mulheres grávidas. Os sintomas incluem desidratação severa e anemia. A situação nos hospitais é desesperadora, com as unidades de saúde já sobrecarregadas devido ao número crescente de vítimas de tiros e a escassez de alimentos e medicamentos.
O clamor internacional e a luta por ajuda
O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou sua indignação, afirmando que a situação em Gaza atingiu níveis “sem precedentes” de morte e destruição. Ele destacou que a fome está afetando toda a população e sublinhou o caráter “alarmante” da desnutrição crescente. Diversas organizações humanitárias, incluindo a AFP, alertaram que jornalistas e profissionais da saúde estão à beira da morte devido à falta de alimentos, com a escassez de recursos vitais para o dia a dia.
Críticas à distribuição de ajuda
A ajuda humanitária tem sido extremamente limitada e chega com lentidão. Desde o bloqueio imposto por Israel desde 27 de maio, as distribuições têm sido centralizadas na Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma entidade criticada por várias ONGs internacionais. A GHF, que substituiu 400 pontos de distribuição geridos pela ONU, foi acusada de violar princípios da ajuda humanitária, com ONGs pedindo sua suspensão. A agência de notícias Reuters relatou que a GHF foi acusada de colaborar com ataques contra as distribuições de ajuda.
A ONU e outras organizações têm denunciado que, até o momento, mais de mil palestinos foram mortos enquanto tentavam acessar a ajuda em Gaza. O Exército israelense é apontado como responsável pela morte de 1.054 pessoas que buscavam alimentos, muitas delas próximas às instalações da GHF.
Fome como ‘armadilha mortal’
A busca desesperada por alimentos tornou-se uma tarefa fatal, com palestinos sendo mortos enquanto tentavam pegar o pouco de comida disponível nos armazéns de ajuda. A ONU relatou que, até 21 de julho, mais de 1.000 pessoas perderam a vida nesse processo, a maioria perto das instalações da GHF ou de comboios da ONU.
Mohammed Jundia, um palestino que conseguiu um saco de farinha após dias sem comida, declarou: “A fome está matando pessoas. Hoje, foi uma luta enorme até que tiveram pena de nós e nos deram um saco de farinha.”
Apelo internacional por um fim ao conflito
O sofrimento em Gaza gerou um apelo internacional, com o Reino Unido, França, Japão, Canadá e outros 27 países exigindo um cessar imediato das hostilidades. Em um comunicado conjunto, os países condenaram a destruição e as mortes em Gaza, destacando que o modelo de distribuição de ajuda implementado por Israel é insustentável e contribui para a instabilidade. Eles pedem que as ajudas humanitárias cheguem de forma mais eficaz, sem interferências militares.
( Com AFP)