Para especialistas ouvidos por veículos de imprensa, a medida equivaleria a “maquiar” a inflação e “tapar o sol com a peneira”.
A proposta do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), de retirar os preços de alimentos e energia do cálculo da taxa básica de juros (Selic) foi criticada por analistas econômicos, que apontam a ideia como uma forma de distorcer a realidade inflacionária.
A declaração de Alckmin foi feita nesta segunda-feira (25), durante evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ele sugeriu a adoção de um modelo semelhante ao utilizado pelos Estados Unidos, onde o Federal Reserve (Fed) leva em consideração o núcleo da inflação — que desconsidera preços voláteis, como alimentos e energia — para orientar sua política monetária.
“Nos Estados Unidos, o que eles fazem? A inflação que o Fed acompanha é o núcleo da inflação. A gente precisa acompanhar isso também”, afirmou o vice-presidente, em crítica ao atual modelo usado pelo Banco Central para definir a Selic, hoje fixada em 10,75% ao ano.
Economistas, no entanto, ressaltam que o Banco Central já utiliza o núcleo da inflação como um dos indicadores em sua análise, embora a meta oficial seja baseada no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cheio. Eles alertam que remover componentes como energia elétrica e alimentos do radar principal da política monetária pode comprometer a credibilidade do combate à inflação e gerar instabilidade no mercado.
Além disso, especialistas lembram que itens como alimentos e energia têm peso significativo no orçamento das famílias brasileiras, especialmente das camadas mais pobres, e sua exclusão do índice de inflação de referência pode tornar a política monetária menos sensível às demandas da população.
A proposta de Alckmin surge em meio a pressões do governo federal por uma redução mais rápida da taxa de juros, vista como um entrave ao crescimento econômico. Apesar das críticas de integrantes do Executivo, o Banco Central tem mantido uma postura cautelosa diante das incertezas fiscais e do cenário internacional, especialmente com a indefinição sobre os rumos dos juros nos Estados Unidos.