Alterações na retina indicam possíveis sinais da doença até 20 anos antes dos sintomas
Pesquisadores norte-americanos estudam uma tecnologia capaz de identificar os primeiros sinais de Alzheimer a partir de exames oftalmológicos de rotina. A proposta, que ainda está em fase inicial, foi apresentada em artigo publicado na revista científica Alzheimer’s & Dementia.
Segundo os autores, alterações microscópicas nos vasos sanguíneos da retina podem indicar estágios precoces da doença. Em testes com camundongos geneticamente modificados, os cientistas observaram vasos retinianos torcidos, artérias estreitadas e inchadas, além de menor ramificação vascular. Também foram detectadas mudanças no padrão de proteínas tanto no cérebro quanto nas retinas dos animais.
Retina como extensão do cérebro
A retina é considerada por muitos especialistas uma extensão do sistema nervoso central. Diferentemente do cérebro, que fica protegido no interior da caixa craniana, os olhos oferecem acesso mais direto a essa rede neuronal — desde que se disponha de equipamentos adequados para o exame.
O próximo passo do grupo de pesquisa é realizar testes em humanos, com a expectativa de que seja possível identificar sinais característicos da doença até 20 anos antes da manifestação dos primeiros sintomas.
Relação entre visão e Alzheimer
A relação entre doenças oculares e neurodegeneração já está bem estabelecida na literatura médica. Segundo a comissão da Lancet para Alzheimer, a perda de visão é reconhecida como um dos 14 fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento da doença.
Um estudo de coorte publicado na Journal of the American Medical Association revelou que a catarata aumenta em até 92% o risco de demência, especialmente do tipo vascular, além de reduzir o volume da massa cinzenta. A análise envolveu dados de mais de 300 mil pacientes do banco britânico UK Biobank.
Outra revisão científica, que avaliou 13 meta-análises e mais de 230 artigos originais, apontou correlação entre Alzheimer, catarata, degeneração macular e retinopatia diabética. No total, os dados englobam cerca de 99 milhões de participantes em diferentes países.
Importância da prevenção
Enquanto tecnologias inovadoras para diagnóstico precoce não chegam ao consultório, especialistas ressaltam a importância de medidas preventivas. Viviane Zétola, professora da UFPR, explica que ainda não existe protocolo semelhante ao da audiometria para pacientes com queixas visuais, mas defende a investigação de comorbidades já associadas à demência, como catarata e glaucoma.
Já Alessandra Camacho, professora da UFF, reforça que a prevenção depende de hábitos saudáveis: “É preciso manter a cabeça ativa e uma vida social”. Entre as recomendações, estão manter atividades intelectuais, praticar exercícios físicos, não fumar, evitar o consumo de álcool e adotar uma alimentação equilibrada.