Justiça dos EUA aponta esquema de roubo e venda de partes de corpos doados para pesquisa científica, com envios a vários Estados e pagamentos via plataformas digitais
O ex-diretor do necrotério da Harvard Medical School, Cedric Lodge, foi condenado nesta terça-feira (16) a oito anos de prisão por liderar um esquema de roubo e comercialização de partes de corpos doados para fins científicos. A decisão foi anunciada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Esquema operou por quase dois anos
Segundo as autoridades, entre 2018 e março de 2020, Lodge coordenou a retirada ilegal de restos mortais do necrotério da escola de medicina, localizada na região de Boston. Entre os itens comercializados estavam órgãos internos, cérebros, pele, mãos, rostos e cabeças dissecadas. As negociações ocorriam por telefone ou redes sociais, e os pacotes eram enviados pelo correio a compradores em diferentes Estados ou retirados pessoalmente.
Transporte e logística
Presos em maio de 2023, Cedric Lodge e a esposa, Denise Lodge, transportavam os materiais da instituição para a residência do casal em Goffstown, em New Hampshire, além de outros pontos em Massachusetts e na Pensilvânia. A Justiça destacou que as vendas foram realizadas sem o conhecimento do empregador, dos doadores ou de seus familiares.
Compradores e revenda
Entre os compradores identificados está Katrina MacLean, de 44 anos, proprietária da loja Kate’s Creepy Creations, em Peabody (Massachusetts), especializada em artigos ligados ao macabro. De acordo com os investigadores, ela armazenava restos humanos no estabelecimento e, em outubro de 2020, adquiriu duas cabeças dissecadas de Lodge, conforme informações divulgadas pelo jornal francês Le Parisien.
Outro cliente, Joshua Taylor, de 46 anos, residente na Pensilvânia, desembolsou milhares de dólares ao longo de três anos para comprar restos mortais. Registros apontam 39 transferências para a conta PayPal de Lodge, totalizando cerca de US$ 37,3 mil. Em algumas remessas, os pacotes eram identificados como “Head number 7”, segundo a acusação.
Penas e investigações
Diversos compradores já foram condenados ou aguardam sentença. Denise Lodge recebeu pena de um ano e um dia de prisão por facilitar as vendas. As autoridades afirmam ainda que parte do material foi revendida com lucro por terceiros.
“A sentença representa mais um passo para responsabilizar os envolvidos em um crime de extrema gravidade”, afirmou Wayne A. Jacobs, agente especial do FBI na Filadélfia. O Departamento de Justiça sustenta que o caso violou princípios éticos fundamentais da doação para pesquisa científica e abalou a confiança no sistema acadêmico e médico.



