O encontro entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky na Casa Branca, ocorrido na sexta-feira, gerou grande tensão e alterou o curso das negociações para a paz na Ucrânia.
Enquanto líderes europeus e o Canadá manifestaram apoio ao presidente ucraniano, a Rússia e a Hungria se posicionaram ao lado do chefe de Estado norte-americano.
A expectativa inicial era de que a visita de Zelensky aos Estados Unidos resultasse em avanços diplomáticos, incluindo a assinatura de um acordo de exploração mineral com o governo norte-americano. O plano incluía, ainda, uma coletiva de imprensa conjunta entre os dois presidentes. No entanto, a reunião na Sala Oval foi marcada por desentendimentos, culminando no cancelamento da entrevista coletiva e na saída abrupta de Zelensky da Casa Branca.
Durante o encontro, Trump acusou Zelensky de “ingratidão” pelo apoio prestado pelos Estados Unidos à Ucrânia e advertiu que o presidente ucraniano “está brincando com a Terceira Guerra Mundial”. O vice-presidente norte-americano, JD Vance, reforçou as críticas, afirmando que Zelensky “desrespeita” o povo dos Estados Unidos.
Diante dessas declarações, o líder ucraniano reiterou sua recusa em fazer concessões ao presidente russo Vladimir Putin, a quem chamou de “assassino”. Como resposta, Trump declarou que não retomará negociações com Zelensky até que este esteja “pronto para a paz”.
Pouco após deixar a Casa Branca, o líder ucraniano utilizou as redes sociais para agradecer o apoio dos Estados Unidos, mas reforçou que a Ucrânia necessita de uma “paz justa e duradoura”. A reação da embaixadora ucraniana nos Estados Unidos, Oksana Markarova, durante a reunião, viralizou nas redes sociais, expressando a insatisfação de Kyiv com o desfecho do encontro.
Líderes europeus destacam apoio à Ucrânia
O presidente francês, Emmanuel Macron, que estava em visita oficial a Portugal, foi um dos primeiros a reagir ao episódio. Ele enfatizou que “a Rússia é o agressor e o povo agredido é a Ucrânia”. Em entrevista à RTP, Macron reiterou que o único líder que “brinca com a Terceira Guerra Mundial se chama Vladimir Putin”.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comprometeu-se a trabalhar com Zelensky em busca de uma “paz justa e duradoura”, encorajando-o a manter-se “forte, corajoso e destemido”. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, assegurou que o líder ucraniano “nunca estará sozinho”, posicionamento reforçado também pela presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, e pelo primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk.
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, manifestou solidariedade à Ucrânia em mensagem publicada em três idiomas – espanhol, inglês e ucraniano –, enquanto a chanceler alemã, Annalena Baerbock, reiterou que a Alemanha está “unida ao lado da Ucrânia contra a agressão russa”. Olaf Scholz, atual chefe de governo alemão, e Friedrich Merz, líder conservador eleito recentemente, reforçaram seu apoio a Kyiv.
Os líderes da Lituânia, Letônia e Estônia também expressaram solidariedade à Ucrânia, garantindo que o país “nunca caminhará sozinho”.
Fora do continente europeu, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, reafirmou seu compromisso com uma “paz justa e duradoura” e defendeu a democracia e a soberania da Ucrânia. Na Austrália, o chefe de governo Anthony Albanese ressaltou que seu país apoiará Kyiv “pelo tempo que for necessário”.
Na Itália, a primeira-ministra Giorgia Meloni propôs uma cúpula urgente entre os Estados Unidos, Europa e aliados para discutir o conflito na Ucrânia, buscando evitar “divisões que enfraquecem o Ocidente”. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, dialogou com Trump e Zelensky após o encontro e garantiu a Kyiv um “apoio inabalável”.
Hungria elogia Trump, enquanto Rússia ataca Zelensky
Divergindo da posição predominante na União Europeia, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, elogiou Donald Trump, afirmando que o líder norte-americano “lutou bravamente pela paz”.
Na Rússia, as reações foram marcadas por insultos e ataques ao presidente ucraniano. O ex-presidente Dmitri Medvedev e o enviado especial russo Kirill Dmitriev classificaram o confronto como “histórico” e ofenderam Zelensky com declarações depreciativas. O Ministério das Relações Exteriores russo acusou o presidente ucraniano de ser “desagradável com todos”, enquanto a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, reiterou críticas ao governo de Kyiv.
Possível suspensão do apoio militar norte-americano
Após o embate na Casa Branca, o governo Trump estaria considerando suspender o envio de equipamentos militares para a Ucrânia. Segundo o Washington Post, fontes do alto escalão da administração norte-americana indicam que a interrupção das remessas está sendo avaliada em função da resistência de Zelensky em aceitar os termos propostos por Washington para o avanço das negociações de paz com Moscou.
A possível suspensão do auxílio militar levanta preocupações sobre o impacto da decisão no conflito em curso e na capacidade da Ucrânia de se defender diante das forças russas.