Levantamento aponta que o país figura entre os 17 com maior número de políticas de enfrentamento à obesidade, mas medidas seguem insuficientes diante do avanço do problema
A população adulta brasileira com sobrepeso pode chegar a 119 milhões de pessoas até 2030, segundo projeção divulgada pela Federação Mundial da Obesidade. O estudo indica que cerca de 68% dos adultos no país apresentarão Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 25 kg/m² – parâmetro que caracteriza o sobrepeso –, sendo que uma parcela expressiva ultrapassará os 30 kg/m², faixa que define a obesidade.
De acordo com o levantamento, o número de homens com IMC elevado poderá saltar de 38,5 milhões, registrado em 2015, para 55,8 milhões em 2030. Entre as mulheres, a estimativa é de um aumento de 41,4 milhões para 63,3 milhões no mesmo período. A análise, no entanto, não contempla cenários alternativos nos quais políticas públicas mais eficazes sejam adotadas.
O estudo reforça que a obesidade é um dos principais fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2, enfermidades cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e determinados tipos de câncer. Em 2021, o Brasil contabilizou 60.913 mortes prematuras associadas a condições relacionadas ao IMC elevado.
Globalmente, mais de 1 bilhão de pessoas vivem atualmente com obesidade, número que pode superar 1,5 bilhão nos próximos cinco anos caso medidas preventivas não sejam implementadas de forma efetiva. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a obesidade uma epidemia global e alerta para a necessidade de políticas integradas que envolvam diferentes setores da sociedade.
O Brasil, segundo a Federação Mundial da Obesidade, está entre os 17 países que mais adotam políticas voltadas ao combate do problema. Entre as iniciativas identificadas estão diretrizes para o controle do IMC, da inatividade física e das doenças crônicas na atenção primária à saúde. Ainda assim, desafios persistem, como o elevado consumo de bebidas açucaradas – que varia de 1 a 2,5 litros por semana por pessoa – e a alta taxa de sedentarismo, que afeta entre 40% e 50% da população adulta.
A análise considerou a aplicação de cinco políticas-chave para o enfrentamento da obesidade:
- Tributação sobre bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados;
- Subsídios para a oferta de alimentos saudáveis;
- Restrições à publicidade de alimentos dirigida ao público infantil;
- Incentivos à prática de atividades físicas;
- Estruturação do sistema de saúde para o tratamento da obesidade.
Os dados revelam que dois terços dos países avaliados não aplicam nenhuma ou apenas uma dessas medidas. Apenas 7% das nações analisadas possuem sistemas de saúde adequados para lidar com a obesidade, sendo a situação mais crítica em países de baixa e média renda.
No cenário global, Tonga é o único país classificado com alto nível de prontidão para enfrentar a obesidade. Outras nações, como México, Índia, Reino Unido, Finlândia e Malásia, demonstraram preparo moderado. Em contrapartida, 67 países não cumprem sequer um dos critérios mínimos de estruturação para o combate à doença.
Além das projeções do Atlas Mundial da Obesidade, um estudo apresentado no Congresso Internacional sobre Obesidade (ICO), em 2024, aponta que, até 2044, cerca de 48% dos adultos brasileiros poderão estar obesos, enquanto outros 27% permanecerão com sobrepeso. Caso essa previsão se concretize, o país terá aproximadamente 130 milhões de adultos com IMC elevado, sendo 83 milhões obesos e 47 milhões com sobrepeso.
O presidente da Federação Mundial da Obesidade, Simon Barquera, comparou o impacto da obesidade ao de acidentes de trânsito, ressaltando a urgência da adoção de medidas mais rigorosas por parte dos governos. “Ficaríamos horrorizados se um país não tivesse uma política para reduzir fatalidades nas estradas, mas muitos governos em todo o mundo não têm um plano sério para reduzir a morte e a doença causadas pela obesidade”, declarou.
Especialistas apontam que a obesidade não deve ser encarada apenas como uma consequência de escolhas individuais, mas sim como reflexo de fatores estruturais, como alimentação inadequada, acesso limitado a alimentos saudáveis e carência de espaços públicos adequados para a prática regular de exercícios físicos. (Fonte: R7)