Pesquisa sueca com mais de 16 mil crianças e adolescentes sugere que a prática regular de exercícios e a participação em esportes coletivos podem proteger a saúde mental
A relação entre atividade física e saúde mental tem sido amplamente explorada, com benefícios notáveis na redução de inflamações, melhor controle do estresse e aumento da autoestima em pessoas com transtornos como ansiedade e depressão. Contudo, a capacidade do exercício físico de prevenir o surgimento de problemas de saúde mental, especialmente em fases precoces da vida, ainda gera questionamentos.
Uma nova pesquisa, publicada no renomado British Journal of Sports Medicine, investigou essa questão, analisando dados de mais de 16 mil crianças suecas. O estudo acompanhou esses indivíduos até os 18 anos, coletando informações sobre a prática de atividades físicas, tempo ao ar livre e participação em times ou grupos esportivos organizados quando tinham 5, 8 e 11 anos.
Esportes em grupo e benefícios para meninos e meninas
Os dados coletados foram cruzados com registros de transtornos psiquiátricos nesse grupo, levando a conclusões importantes. Uma das descobertas mais relevantes é que a participação em atividades esportivas em grupo esteve associada a uma redução significativa em problemas de saúde mental, um benefício observado tanto em meninos quanto em meninas.
A prática de atividade física em geral também produziu resultados positivos. No grupo de meninos com 11 anos, por exemplo, o hábito de exercícios físicos foi relacionado a uma diminuição no número de diferentes transtornos mentais. Já em meninas, esse benefício foi especificamente ligado à redução de casos de depressão.
Os resultados dessa pesquisa são promissores e podem oferecer novas perspectivas para conter o avanço de transtornos como ansiedade e depressão em populações jovens.
Acessibilidade e educação como chaves
Oskar Lundgren, médico assistente sênior no Hospital Universitário de Linköping (Suécia) e um dos autores do estudo, ressalta a importância da acessibilidade a iniciativas de atividade física. “Pode haver muitas outras maneiras de prevenir o desenvolvimento de problemas de saúde mental, mas a atividade física é de interesse especial, uma vez que as iniciativas para aumentar exercícios diários das crianças não precisam ser complicadas ou caras e, portanto, podem também atingir grupos marginalizados, famílias com recursos escassos e indivíduos com deficiência”, afirmou.
Para Lundgren, uma estratégia eficaz para melhorar os índices de atividade física na infância é a sua integração ao currículo escolar. Ele defende que “tirar um tempo das disciplinas acadêmicas não resultaria em perda de progresso acadêmico, já que exercício físico diário pode aprimorar a capacidade de concentração e provavelmente também tornar o processo de aprendizagem mais eficaz”.
Atividade física e desempenho cognitivo
A perspectiva de Lundgren está alinhada a outros estudos que já observaram uma correlação positiva entre o desempenho escolar e a prática regular de exercícios físicos em estudantes. Por exemplo, uma análise de 14 pesquisas publicada em 2024 concluiu que, em geral, atividades físicas consistentes estavam relacionadas a melhores índices de inteligência em crianças e adolescentes. Em média, os dados indicaram que o exercício físico poderia estar associado a um aumento de até quatro pontos no Quociente de Inteligência (QI).
Apesar dos avanços, o pesquisador enfatiza a necessidade de mais investigações nesse campo. Para Lundgren, existe atualmente apenas “uma visão superficial da relação entre atividade física e saúde mental”. Aprofundar esse conhecimento, segundo ele, pode se tornar uma estratégia vital no combate a transtornos como depressão e ansiedade.