* Por Wilton Emiliano Pinto
“Não existe início.
Nem chegada.
Só o caminho”.
O início
Nada surge do absoluto zero.
Cada começo é, na verdade, a continuação de algo anterior:
você nasceu, mas antes houve seus pais, sua ancestralidade, sua história espiritual (para quem crê), seu corpo que veio de células que já existiam.
Tudo começa antes de parecer começar.
A chegada
Essa é apenas uma ilusão.
Quando você atinge uma meta, o que acontece?
Quase sempre já pensa na próxima.
A aposentadoria não é o fim — é só o início de uma nova trilha.
Mesmo a sabedoria é um porto provisório, pois logo percebemos que ainda há muito a aprender.
O caminho
Esse sim, é por onde encontramos a felicidade.
Ela está na jornada, não no destino.
Foi isso que me ocorreu, outro dia, ao observar uma velha formiga atravessar a calçada.
Lenta, decidida, sem se importar com a extensão do percurso ou o tamanho da migalha que carregava.
Ela não parecia preocupada com onde aquilo ia dar.
Talvez, no fundo, soubesse:
o importante era seguir.
Vivemos cercados por metas:
Diploma,
Emprego,
Casa própria,
O carro que promete uma liberdade que nunca chega…
Mas quem disse que a felicidade tem endereço fixo?
Ou que ela mora no topo de algum monte chamado “conquista”?
A gente esquece que, mesmo quando “chega”, o mundo continua girando, o tempo continua andando — e a vida, pedindo passagem.
Tudo começa antes do que chamamos de começo.
E termina depois do que chamamos de fim.
Lembro de quando eu era menino.
Ia com meu pai buscar água na bica, lá longe — onde ficava o monjolo.
Era preciso descer uma longa ladeira.
Na volta… ah, a volta —
Era difícil de subir.
Ele me dava um galão pequeno, só para me entreter,
E íamos conversando sobre tudo e sobre nada.
Às vezes, falava das chuvas.
Do café que brotava melhor depois da lua cheia.
Outras vezes, das modas de viola no rádio a bateria — novidade da época.
E eu ali, pequeno viajante, achando que a parte boa era beber a água fresca da bica.
Hoje vejo:
Era o caminho.
O barulho na estrada,
Os passarinhos escondidos no mato,
A voz do meu pai,
Os silêncios compartilhados…
Era o presente — que eu ainda não sabia reconhecer como presente.
A vida, se a gente parar pra ver, é um fiapo de estrada —
Entre o primeiro choro e o último suspiro.
Alguns correm para chegar logo.
Outros se distraem e tropeçam.
Há quem se perca nas curvas,
Sinta medo da descida
Ou raiva da subida.
Mas sempre há o que ver ao redor:
Uma flor corajosa no acostamento,
Um pôr do sol que pinta o céu de laranja,
Uma mão estendida no sinaleiro.
Não existe início.
Nem chegada.
Só o caminho.
E o caminho é tudo o que temos.
A felicidade não é uma medalha no fim da prova —
É a brisa no rosto durante a corrida,
A presença do companheiro ao lado,
O tropeço que vira risada.
Que a gente aprenda, como a velha formiga,
A valorizar cada passo.
A andar com propósito, mas sem pressa.
Porque a vida —
Essa estrada de terra batida e céu aberto —
não é para ser vencida.
É para ser percebida, sentida, vivida.
