Miguel B. Fernández critica Trump e políticos locais por medidas anti-imigração e financia outdoors com mensagens de alerta à comunidade cubano-americana.
Outdoors provocativos na Flórida
Em uma das avenidas mais movimentadas de Miami, outdoors exibem fotografias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acompanhadas da frase: “Aspirante a ditador. Nos Estados Unidos, não.” Outros painéis apontam o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e três congressistas republicanos do condado, acusando-os de “traição” e chamando-os de “hipócritas” e “marionetes”.
A iniciativa é obra do empresário e filantropo cubano-americano Miguel “Mike” B. Fernández, multimilionário de 73 anos e ex-filiado ao Partido Republicano. Fernández acusa Trump e aliados de serem cúmplices da “cruel” política migratória implementada pela Casa Branca, especialmente após a revogação do status de mais de 530 mil imigrantes que entraram legalmente nos EUA com o chamado parole humanitário desde janeiro de 2025.
“Aspirante a ditador. Nos Estados Unidos, não”, diz, em inglês, o outdoor da campanha de Miguel B. Fernández, na Flórida.
Motivação pessoal e ativismo político
Em entrevista à BBC News Mundo, Fernández explicou que seu ativismo nasce da experiência pessoal como migrante: ele chegou aos EUA em 1964, fugindo do regime de Fidel Castro, e teme que imigrantes atuais enfrentem deportações ou detenção em centros como a “Alcatraz dos jacarés”, estabelecida sob a administração Trump na Flórida.
“O que está acontecendo no nosso país não é correto, qualquer pessoa normal percebe isso”, declarou Fernández, ressaltando o impacto das políticas anti-imigração sobre a comunidade latina de Miami, um dos maiores centros de imigrantes do país.
De refugiado a magnata da saúde
Nascido em Manzanillo, Cuba, Fernández descreve sua infância como marcada pela instabilidade e pela perseguição política pós-revolução. Após o confisco dos bens de sua família, eles foram expulsos para o México, onde permaneceram sem visto nem passaporte até conseguir entrar nos Estados Unidos.
Nos EUA, estudou em um colégio jesuíta em Nova York e se alistou como paraquedista no Exército americano, servindo por três anos e meio durante a Guerra do Vietnã. Posteriormente, construiu uma carreira de sucesso no setor da saúde em Miami, fundando e vendendo mais de 30 empresas antes de criar a MBF Healthcare Partners, um fundo de investimentos privados de centenas de milhões de dólares.
Durante anos, Fernández apoiou candidatos republicanos e democratas, incluindo Jeb Bush, Rick Scott e María Elvira Salazar, até romper com o Partido Republicano em 2016, devido à “estratégia do martelo e da crueldade” de Donald Trump. Desde então, concentra sua influência em causas favoráveis aos imigrantes.
A campanha de outdoors
Os outdoors começaram a aparecer em Miami em abril, com mensagens contundentes como “Deportar imigrantes é cruel” e “Façam alguma coisa”. Inicialmente anônima, a campanha foi depois assumida publicamente por Fernández. Ele afirma que seu objetivo é despertar a consciência da comunidade cubano-americana sobre os efeitos da política migratória de Trump e pressionar representantes locais.
‘Deportar imigrantes é cruel’, defende o outdoor que mostra, da esquerda para a direita, Marco Rubio, María Elvira Salazar, Carlos Giménez e Mario Díaz-Balart. Todos membros do Congresso Americano.
“Os migrantes são um plus para este país, não um ponto negativo”, disse Fernández, ressaltando que a iniciativa conta atualmente com 32 apoiadores, incluindo republicanos que compartilham da causa. A campanha deve permanecer ativa até as eleições legislativas de 2026.
Reações e consequências
A ação de Fernández gerou debates intensos em Miami. Setores democratas, republicanos moderados e organizações pró-imigrantes apoiaram a iniciativa, enquanto apoiadores de Trump a acusaram de alinhar-se à “extrema esquerda”. O empresário relatou perdas de amizades, distanciamento de investidores e até ameaças diretas, mas mantém sua posição.
Além disso, retirou doações para universidades locais que não incluíam imigrantes sem documentos em seus programas de bolsas de estudo, reforçando seu compromisso com a causa. “Este não é o país que eu conheço, não é o país do qual tenho orgulho de fazer parte. Continuarei expressando minhas opiniões”, concluiu.
( Com BBC NEWS BRASIL )
