Relatório do Pnuma mostra alta de 2,3% nas emissões em 2024 e alerta para metas insuficientes do Acordo de Paris; Brasil registra queda puxada pela redução do desmatamento
Emissões sobem no mundo, mas Brasil recua
As emissões de gases de efeito estufa atingiram novo patamar histórico em 2024, com crescimento global de 2,3% em comparação ao ano anterior, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). O avanço foi impulsionado principalmente por China, Índia, Rússia e Indonésia.
Em contraste, o Brasil registrou recuo de 11% no mesmo período, resultado associado à diminuição do desmatamento na Amazônia. O relatório foi divulgado nesta terça-feira, 4, a poucos dias do início da COP-30, que terá Belém como sede a partir do dia 10.
Metas atuais não garantem limite de aquecimento
O levantamento afirma que, embora novas promessas feitas pelos países tenham reduzido a projeção de aquecimento, elas permanecem insuficientes para cumprir o Acordo de Paris. A meta é limitar o aquecimento global a menos de 2 °C até o fim do século, com esforço para não ultrapassar 1,5 °C.
Menos de um terço das nações atualizou seus compromissos climáticos, entre elas apenas 60 países. Estados-membros da União Europeia ainda não apresentaram novas metas. O cenário é agravado por conflitos internacionais e tensões comerciais, que tiram protagonismo da agenda ambiental.
No mês passado, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, reconheceu que o limite de 1,5 °C dificilmente será alcançado. Segundo as projeções atuais, o planeta caminha para um aquecimento entre 2,3 °C e 2,5 °C, abaixo da estimativa de 2,6 °C a 2,8 °C do relatório anterior. A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris sob o governo Donald Trump adiciona cerca de 0,1 °C ao cálculo global.
ONU pede cortes rápidos e sem precedentes
“Os países tiveram três oportunidades para honrar as promessas do Acordo de Paris, e falharam”, afirmou Inger Andersen, diretora-executiva do Pnuma. Ela reforçou que as reduções atuais não acontecem na velocidade necessária e que o mundo enfrenta um ambiente geopolítico cada vez mais complexo.
Desde a assinatura do pacto, há dez anos, a estimativa de aquecimento caiu de uma faixa entre 3 °C e 3,5 °C para a atual. Ainda assim, cientistas alertam que o aumento das temperaturas ampliará eventos climáticos extremos, como a tempestade histórica que atingiu o Rio Grande do Sul em 2024.
Combustíveis fósseis continuam no centro do debate
O relatório destaca que o principal obstáculo para limitar o aquecimento global segue sendo a dependência de combustíveis fósseis. Apesar das promessas, países continuam ampliando investimentos em petróleo e gás.
No Brasil, a autorização para exploração na Margem Equatorial, na Foz do Amazonas, dividiu opiniões. Ambientalistas veem o projeto como contraditório para uma nação anfitriã da COP-30 e que busca protagonismo climático. Integrantes do governo defendem que a atividade pode gerar recursos para financiar a transição energética e combater desigualdades.
“Cada novo subsídio, cada nova licença é mais um golpe no objetivo de manter o aquecimento em 1,5 °C”, afirmou Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.
Debate global busca equilíbrio entre urgência climática e desenvolvimento
Na semana passada, Bill Gates defendeu um redirecionamento do debate climático, argumentando que o foco excessivo no risco climático pode afastar investimentos de soluções com maior impacto social imediato. Para o cofundador da Microsoft, é necessária uma “mudança estratégica”, priorizando saúde, agricultura e desenvolvimento econômico em regiões mais vulneráveis.
A COP-30 deve girar justamente em torno desse equilíbrio: pressionar por cortes ambiciosos nas emissões enquanto garante condições para desenvolvimento sustentável, especialmente nos países mais afetados pelas mudanças climáticas.
