Durante visita ao Kremlin, presidente brasileiro defende estreitamento da relação estratégica com Moscou e critica política tarifária dos EUA sob gestão Trump
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou, nesta sexta-feira (9), o desejo de aprofundar a cooperação com a Rússia no setor de energia, especialmente por meio da implantação de pequenas usinas nucleares no Brasil. A declaração foi feita durante reunião bilateral com o presidente russo, Vladimir Putin, no Kremlin, em Moscou.
“Gostaria de que alguns ministros meus falassem o que eles já conversaram aqui, sobretudo, o ministro de Minas e Energia, que nós temos muito interesse em tentar estabelecer uma relação com a Rússia nas pequenas usinas nucleares”, afirmou Lula ao lado de Putin.
Atualmente, o Brasil conta com duas usinas nucleares em operação — Angra 1 e Angra 2 — ambas localizadas no estado do Rio de Janeiro. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), essas unidades representam aproximadamente 1% do consumo nacional de eletricidade.
Além da pauta energética, Lula reforçou a necessidade de reequilibrar a balança comercial entre os dois países. No ano de 2024, as exportações brasileiras para a Rússia somaram US$ 1,4 bilhão, enquanto as importações atingiram US$ 11 bilhões. “É um comércio bastante deficitário para o Brasil, mas entendemos que o potencial de crescimento é grande”, avaliou o presidente.
Durante o encontro, Lula também criticou abertamente a política econômica do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “As últimas decisões anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, de taxação de comércio com todos os países do mundo de forma unilateral, joga por terra a grande ideia do livre-comércio, jogam por terra a grande ideia do fortalecimento do multilateralismo e jogam por terra, muitas vezes, o respeito à soberania dos países que nós temos de ter”, afirmou.
Presença em desfile militar causa tensão com Ucrânia
A agenda do presidente brasileiro em Moscou incluiu, ainda, a participação no desfile militar que celebra os 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial. Realizada na Praça Vermelha, a cerimônia reuniu 27 chefes de Estado, entre eles o presidente da China, Xi Jinping, que ocupou lugar ao lado de Putin, e o líder venezuelano Nicolás Maduro.
Também participaram o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel; o presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic; e o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico — este, o único líder europeu presente.
Durante as celebrações, os líderes estrangeiros depositaram flores no Túmulo do Soldado Desconhecido, monumento dedicado aos combatentes soviéticos mortos na guerra. Em seguida, almoçaram com Vladimir Putin em um evento diplomático reservado.
A visita de Lula à Rússia gerou desconforto no governo ucraniano. O embaixador da Ucrânia em Brasília, Andrii Melnyk, foi transferido para atuar na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Até o momento, não há previsão de substituição, e a embaixada em Brasília ficará sob responsabilidade de um conselheiro. Além disso, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, rejeitou ao menos dois pedidos de conversa por telefone com Lula desde que a presença do brasileiro no desfile russo foi anunciada.