Republicano destacou “afinidade” com o presidente brasileiro e indicou possível encontro; aceno abre debate sobre efeitos nas sanções impostas aos ministros do STF
Preocupação no bolsonarismo
A manifestação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em tom elogioso a Luiz Inácio Lula da Silva durante a Assembleia Geral da ONU, causou desconforto em lideranças ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Em discurso, o republicano disse ter sentido “afinidade recíproca” com Lula e sinalizou que ambos devem conversar nos próximos dias. A avaliação entre parlamentares da oposição é que essa aproximação pode resultar em um abrandamento das sanções aplicadas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), impostas pelo governo americano em meio à negociação de tarifas sobre produtos brasileiros.
Embora o discurso oficial da bancada bolsonarista seja minimizar o gesto de Trump — posição defendida publicamente pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) —, dirigentes do Congresso reconhecem que o episódio pode abrir espaço para um realinhamento diplomático entre Brasil e EUA.
Apoio de Hugo Motta
O gesto de Trump ocorreu logo após a fala de Lula, que criticou as medidas tarifárias e as sanções americanas. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), elogiou a postura do petista. Para ele, o Brasil deve manter firme a defesa de sua soberania, como demonstrado na ONU.
— Defendo sempre que o governo brasileiro possa, em diálogo com o governo americano, dirimir as dúvidas, deixar para trás essa questão das tarifas e das sanções, para que a relação entre os países possa ser retomada. Sempre defendendo que o Brasil tenha instituições sólidas, democracia forte e soberania respeitada. Confio que, por meio da diplomacia, essa situação possa ser resolvida — declarou Motta.
Repercussão nas redes
As declarações de Trump mobilizaram políticos de diferentes espectros. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), comparou a relação de Lula com Trump à parceria mantida no passado com George W. Bush e disse que a “altivez” do presidente brasileiro lhe garante respeito internacional.
A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) interpretou a mudança de tom do republicano como um “recalculo de rota”, após falhas de outras estratégias, como o aumento das tarifas e críticas à democracia brasileira. Já Júlia Zanatta (PL-SC) afirmou que o gesto de Trump derruba a versão de que o republicano não queria negociar com o Brasil. Filipe Barros (PL-PR), por sua vez, ironizou: “Trump quer falar com o Lula. O problema é que, do outro lado, há o Lula”.
Sanções contra autoridades brasileiras
Além da sobretaxa de 50% sobre parte dos produtos exportados pelo Brasil, Washington também aplicou sanções a autoridades nacionais. Entre elas, a restrição de vistos e a inclusão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e de sua esposa, a advogada Viviane Barci de Moraes, na lista da Lei Magnitsky. A legislação bloqueia transações financeiras em território americano de pessoas acusadas de corrupção grave ou violações de direitos humanos.
A leitura de Eduardo Bolsonaro
Em resposta às falas de Trump, Eduardo Bolsonaro afirmou que o republicano apenas repetiu seu estilo diplomático: elevar a tensão, impor sanções e, em seguida, se reposicionar em condições de vantagem. Ele citou como exemplo a inclusão da esposa de Moraes entre os alvos de sanção na véspera do discurso, classificando a medida como um “recado direto”.
“O que se vê é a marca registrada de Trump: ele entra na mesa quando quer, da forma que quer e na posição que quer”, escreveu o deputado. Para ele, caberá a Lula “tentar extrair algo de positivo” dessa abertura.
Segundo Eduardo, Trump deixou claro que o Brasil não pode prescindir dos Estados Unidos: “Ao final, Trump ainda disse que sem os EUA o Brasil vai mal. Não há para onde correr: o Brasil precisa dos EUA, reconheça isto ou não”, afirmou.