Investidores reagem positivamente à possibilidade de redução das tensões entre as duas maiores economias do mundo
O mercado financeiro brasileiro registrou forte movimento nesta terça-feira (22), após o feriado prolongado, com a cotação do dólar em queda e a Bolsa de Valores em alta, impulsionados por expectativas de um possível arrefecimento na guerra comercial entre Estados Unidos e China.
Às 15h57, o dólar comercial recuava 1,49%, sendo negociado a R$ 5,720, enquanto o Ibovespa avançava 0,92%, alcançando 130.847 pontos, acompanhando o desempenho positivo das bolsas internacionais.
O otimismo dos investidores ganhou força após declarações do secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, em uma reunião privada de investidores organizada pelo JPMorgan Chase. Segundo informações da Bloomberg, Bessent afirmou que o atual impasse tarifário entre Washington e Pequim não é sustentável e que ambos os países precisarão buscar soluções para reduzir as tensões comerciais.
Ainda conforme relatos de participantes do encontro, o secretário classificou a situação atual como um “embargo comercial” e destacou que o objetivo dos Estados Unidos não é se desvincular economicamente da China. Ele demonstrou otimismo ao prever uma desescalada nas próximas semanas, ainda que um acordo mais abrangente entre as duas potências possa levar entre dois e três anos para ser formalizado.
Em resposta às declarações, os mercados internacionais reagiram com entusiasmo. Em Wall Street, o S&P 500 subia 2,24%, o Nasdaq Composite avançava 2,62%, e o Dow Jones registrava alta de 2,5%. No cenário global, o índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta de seis moedas, apresentava alta de 0,57%, atingindo 98,83 pontos.
As tensões comerciais entre Estados Unidos e China se intensificaram desde abril, quando o então presidente Donald Trump anunciou tarifas retaliatórias contra parceiros comerciais norte-americanos. Desde então, as tarifas aplicadas sobre produtos chineses chegaram a 145%, enquanto as taxas sobre mercadorias norte-americanas impostas por Pequim atingiram até 125%.
Karoline Leavitt, secretária de imprensa da Casa Branca, reforçou o tom positivo ao afirmar que as negociações com a China seguem bem encaminhadas. “Perguntei ao presidente sobre isso antes de vir para cá, e ele quis que eu compartilhasse com todos vocês que estamos indo muito bem em relação a um possível acordo comercial com a China”, declarou.
Pressões sobre o Fed e volatilidade recente
Apesar do cenário favorável nas negociações comerciais, o mercado financeiro ainda enfrenta volatilidade em razão das críticas frequentes de Donald Trump ao presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell. Na segunda-feira (21), durante o feriado de Tiradentes no Brasil, Trump voltou a pressionar o Fed pela redução imediata das taxas de juros, usando sua rede Truth Social para chamar Powell de “Sr. Tarde Demais” e “grande perdedor”, acusando-o de atrasar as medidas necessárias para evitar uma desaceleração econômica.
Essa sequência de ataques, que inclui ameaças veladas de demissão do presidente do Fed, eleva a preocupação entre analistas sobre a possibilidade de interferência política na condução da política monetária norte-americana, historicamente marcada por sua independência.
Especialistas apontam que a postura crítica de Trump tem abalado a confiança dos investidores, provocando vendas simultâneas de dólares, títulos do Tesouro e ações norte-americanas. A eventual perda da autonomia do banco central dos EUA é considerada um risco grave à estabilidade financeira do país. “Remover a independência do Fed seria outro golpe à credibilidade duramente conquistada pelas instituições financeiras dos Estados Unidos”, avaliou Trevor Greetham, chefe de multiativos da Royal London Asset Management.
Analistas do banco MUFG reforçaram que a “venda tripla” desses ativos expõe o enfraquecimento da confiança global no mercado norte-americano, tradicionalmente visto como porto seguro.
Fuga para ativos considerados mais seguros
Diante do cenário de incertezas, investidores buscaram refúgio em ativos considerados mais seguros. O ouro, por exemplo, atingiu novo recorde, negociado a US$ 3.500 a onça troy. O iene japonês, outra moeda tradicionalmente associada a menor risco, valorizou-se para 140 ienes por dólar, o nível mais alto desde setembro.
Apesar dos avanços no diálogo entre EUA e China, o mercado continua atento às políticas monetárias e aos possíveis desdobramentos da disputa entre o Executivo norte-americano e o Fed, fatores que devem continuar influenciando o comportamento dos investidores nos próximos dias.