Moeda norte-americana operava em queda de 0,38% nesta sexta-feira (2), cotada a R$ 5,653, impulsionada por sinais de possível negociação entre as duas maiores economias do mundo.
O dólar registrava desvalorização na tarde desta sexta-feira (2), em meio à perspectiva de distensão nas relações comerciais entre Estados Unidos e China. Às 15h19, a moeda norte-americana era negociada a R$ 5,653, com queda de 0,38% no mercado à vista.
A movimentação do câmbio ocorreu após o Ministério do Comércio da China informar, durante a madrugada, que Washington havia feito contato para discutir tarifas comerciais. Em nota, o governo chinês afirmou estar disposto a avaliar conversas, desde que os Estados Unidos demonstrem “sinceridade” e suspendam as tarifas unilaterais atualmente em vigor.
Segundo a pasta, “o governo americano tomou recentemente a iniciativa de transmitir mensagens ao lado chinês por meio de canais relevantes”, sinalizando abertura para negociações diretas. Essa foi a primeira manifestação pública do governo chinês indicando disposição para o diálogo.
As bolsas internacionais reagiram com otimismo à possibilidade de trégua. Os principais índices acionários da Europa e dos Estados Unidos operavam em alta, movimento acompanhado também pelas praças asiáticas. No Brasil, no entanto, o Ibovespa registrava queda de 0,35%, aos 134.583 pontos, refletindo cautela dos investidores locais.
As tensões entre Washington e Pequim se intensificaram após o chamado “Dia da Libertação” promovido pelo ex-presidente Donald Trump, em 2 de abril. Desde então, os EUA aplicaram tarifa de 145% sobre produtos chineses, e a China retaliou com uma taxa de 125% sobre mercadorias norte-americanas.
Apesar disso, o governo chinês anunciou a isenção de tarifas sobre 131 produtos importados dos EUA, totalizando cerca de US$ 40 bilhões — o equivalente a aproximadamente 24% das importações chinesas vindas do mercado americano em 2024, segundo dados da Bloomberg.
“Negociações entre China e EUA para resolver o conflito tarifário são bem-vindas para os ativos de risco em todo o mundo, que reavaliam se as preocupações foram exageradas. Ambas as potências estão adotando um tom mais conciliador, permitindo que os investidores voltem a se posicionar em risco”, avaliou Eduardo Moutinho, analista do Ebury Bank.
Dados de emprego nos EUA
Além do alívio no cenário geopolítico, o dólar também reagiu a dados positivos do mercado de trabalho norte-americano. Em abril, foram criadas 177 mil vagas de emprego, número superior à projeção de 130 mil feita por analistas ouvidos pela Reuters. A taxa de desemprego permaneceu estável em 4,2%.
A solidez do mercado de trabalho levou o mercado a revisar suas expectativas para a política monetária dos EUA. Operadores reduziram a probabilidade de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) corte os juros em sua reunião da próxima semana, mantendo a taxa na faixa entre 4,25% e 4,50%.
Em publicação feita na rede Truth Social, Donald Trump celebrou os dados e voltou a pressionar o Fed. “Os consumidores esperam há anos para ver os preços caírem. SEM INFLAÇÃO, O FED DEVE BAIXAR SUA TAXA!!!”, escreveu.
Bolsa brasileira opera em queda
No Brasil, o dia de agenda econômica esvaziada contribuiu para a retração do Ibovespa. Analistas apontam que a valorização recente do índice, que acumulou alta de 3,7% em abril, favorece um movimento de correção.
Cândido Piovesan, da Nippur Finance, destacou que o mercado local monitora com cautela os desdobramentos da disputa comercial entre as potências. “Os dados fortes de emprego esfriaram as apostas de que o Fed vá cortar os juros já em junho. Agora, o mercado começa a mirar julho. Com isso, o fluxo de dinheiro para países emergentes, como o Brasil, diminui”, afirmou.
Para Virgílio Lage, da Valor Investimentos, a queda do índice também reflete o avanço dos juros futuros, puxados pela expectativa de aumento da inflação. “Além disso, os investidores estão buscando reduzir riscos, migrando parte dos recursos para a renda fixa”, disse.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reunirá na próxima semana para decidir a taxa Selic. A maioria dos economistas consultados pela Reuters projeta elevação de 0,5 ponto percentual, levando a taxa básica de juros para 14,75% ao ano.
Panorama do mês e PIB dos EUA
Na quarta-feira (30), o dólar encerrou o pregão em alta de 0,78%, cotado a R$ 5,675, enquanto o Ibovespa teve leve recuo de 0,01%, fechando a 135.066 pontos. No acumulado de abril, a moeda americana caiu 0,56%, e o índice brasileiro avançou 3,7%.
Dados divulgados na ocasião indicaram retração de 0,3% no Produto Interno Bruto dos Estados Unidos no primeiro trimestre, em comparação ao crescimento de 2,4% registrado no fim de 2024. O recuo, o mais acentuado desde o primeiro trimestre de 2022, foi atribuído à estocagem antecipada por parte das empresas diante das tarifas implementadas por Trump.
A expectativa de crescimento de 0,4% para o período, conforme projeção do Wall Street Journal, acabou frustrada. O déficit comercial norte-americano também atingiu recorde em março, conforme relatório do Censo dos EUA.
Já o relatório ADP de empregos no setor privado apontou a criação de apenas 62 mil vagas em abril, número bem abaixo das 147 mil observadas em março e das 115 mil esperadas pelo mercado.