Brasil registra crescimento no consumo de cigarros pela primeira vez desde 2007
Neste 31 de maio, data em que se celebra o Dia Mundial sem Tabaco, o Brasil volta a acender o alerta para os efeitos nocivos do cigarro — não apenas sobre a saúde individual, mas também sobre o sistema de saúde pública. Pela primeira vez desde 2007, o país registrou aumento no número de fumantes, segundo dados do Ministério da Saúde, reforçando a necessidade de fortalecer campanhas de prevenção e endurecer políticas públicas de controle do tabagismo.
Estudo do Instituto Nacional de Câncer (INCA) revela que os custos atribuídos ao consumo de tabaco superam amplamente os lucros da indústria. Para cada real arrecadado com a produção e comercialização de cigarros, o Brasil gasta até cinco vezes mais com tratamentos médicos e prejuízos econômicos decorrentes de doenças relacionadas.
Substâncias tóxicas afetam todo o organismo
Embora seja frequentemente associado ao câncer de pulmão, o cigarro compromete diversos sistemas do corpo humano. “Quando uma pessoa fuma, inala milhares de substâncias tóxicas. Muitas entram na corrente sanguínea e se espalham por todo o organismo“, explica o pneumologista Rafael Melo, do Hospital Brasília, da Rede Américas.
Essas substâncias geram processos inflamatórios, aceleram o estresse oxidativo e danificam vasos sanguíneos, comprometendo o funcionamento de praticamente todos os órgãos, segundo o especialista.
Ex-fumante relata impactos físicos e processo de abandono
O servidor público Rodrigo Trajano abandonou o vício em 2020, após anos de consumo diário. A decisão foi motivada por sintomas persistentes, como tosse crônica, que chegou a interromper seu sono. Além disso, ele relata outros efeitos visíveis: “Cheguei a fumar uma carteira e meia por dia. Durante o processo de abandono, usei adesivos de nicotina, essenciais para mim. Hoje, não me vejo mais fumando. Olho para fotos antigas, com cigarro na mão, e não me reconheço”, afirma.
Casos como o de Rodrigo são comuns entre ex-fumantes, que frequentemente relatam prejuízos que vão além do sistema respiratório.
Câncer, infarto e AVC: as principais doenças relacionadas ao cigarro
De acordo com o Dr. Melo, o tabagismo aumenta significativamente o risco de desenvolvimento de diversos tipos de câncer, como os de boca, garganta, esôfago, estômago, rim e bexiga. Além disso, ele é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC), e doenças respiratórias crônicas, a exemplo da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).
“O impacto do tabagismo é realmente amplo”, destaca o especialista.
As substâncias presentes no cigarro favorecem o acúmulo de gordura nas artérias e alteram o processo de coagulação, aumentando a probabilidade de eventos cardíacos e neurológicos. “Esse conjunto de fatores aumenta consideravelmente o risco de infarto e AVC entre fumantes, em comparação com quem não fuma”, observa Melo.
Efeitos do cigarro sobre a saúde mental
Os danos causados pelo cigarro não se restringem ao corpo físico. A nicotina, substância altamente viciante, altera o funcionamento do sistema nervoso central e compromete a saúde mental. “A curto prazo, pode haver uma falsa sensação de alívio. No entanto, a longo prazo, surgem quadros de ansiedade, depressão, piora na qualidade do sono e prejuízo cognitivo”, ressalta o pneumologista.
Além disso, estudos apontam ligação entre o hábito de fumar e o risco aumentado de doenças neurodegenerativas, como demência.
Cigarro acelera o envelhecimento da pele
Outro impacto visível do tabagismo é o envelhecimento precoce da pele. A redução do fluxo sanguíneo e a queda na produção de colágeno e elastina — proteínas que conferem firmeza e elasticidade — aceleram a formação de rugas, flacidez e manchas.
“O resultado aparece em forma de rugas, flacidez, manchas, mau hálito e dentes amarelados. O cigarro envelhece não apenas por dentro, mas também por fora”, reforça Melo.
Tabagismo passivo: um risco invisível
A exposição indireta à fumaça do cigarro também representa riscos significativos, especialmente para crianças. “Crianças expostas apresentam maior propensão ao desenvolvimento de asma, infecções respiratórias e otites”, alerta o médico.
Mesmo ambientes ventilados não são suficientes para evitar a inalação das substâncias tóxicas liberadas durante o ato de fumar.
Conta que não fecha: impacto econômico do tabagismo
Além de comprometer a saúde da população, o tabagismo representa um ônus financeiro para o Estado. Segundo a pesquisa A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta, elaborada pelo INCA, para cada R$ 1 de lucro gerado pela indústria do fumo, o país arca com um gasto de até R$ 5,10 considerando custos diretos (tratamentos) e indiretos (perdas de produtividade, aposentadorias precoces e mortes evitáveis).
Esse desequilíbrio econômico amplia a urgência por políticas públicas eficazes, incluindo a regulação da publicidade, a ampliação de ambientes livres de fumo e o acesso facilitado a tratamentos para cessação do tabagismo.