Explosões na cidade de Cali e ataque a helicóptero policial em Antioquia resultam em dezenas de mortos, enquanto dissidências das Farc são apontadas como responsáveis.
Petro classifica ataques como reação terrorista
“Hoje foi um dia de morte.” Foi assim que o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, descreveu os atentados ocorridos na quinta-feira (21/08) que abalaram Cali e o município de Amalfi, em Antioquia. Segundo informações oficiais, pelo menos seis civis morreram na explosão em Cali e 12 policiais perderam a vida no abate de um helicóptero em Antioquia.
A prefeitura de Cali informou que o ataque a bomba deixou ainda cerca de 65 feridos, embora os números oficiais possam sofrer alterações conforme novas informações forem confirmadas.
Ataques recentes reacendem questionamentos sobre a estratégia de paz do presidente Petro — Getty
O presidente vinculou ambos os ataques a dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Em publicação na rede social X (antigo Twitter), Petro relacionou a ação em Cali à derrota da coluna Carlos Patiño e a perda de parte do Cânion Micay. Já o ataque ao helicóptero policial, segundo o presidente, teria sido perpetrado pela Frente 36 do Estado-Maior Central (EMC). Nenhum dos grupos reivindicou formalmente a autoria.
Violência desafia política de “paz total”
Os atentados ocorrem em um contexto de crescente debate sobre a eficácia da política de “paz total” do governo Petro, voltada ao diálogo com grupos armados. O setor opositor associa a estratégia à deterioração da segurança, que, embora não nos níveis de décadas atrás, ainda impacta a percepção da população.
O Vale do Cauca, incluindo Cali, e o departamento vizinho de Cauca têm sido alvo recorrente de ataques. No dia 10 de junho, explosões atribuídas ao EMC em Cali causaram sete mortes, enquanto outros 12 atentados em Cauca deixaram oito mortos.
A região concentra dissidências das Farc, facções herdeiras do paramilitarismo e do Exército de Libertação Nacional (ELN), que disputam territórios e mantêm confrontos com o Estado colombiano.
Ataque a helicóptero reforça clima de tensão
Horas antes da explosão em Cali, um helicóptero da polícia foi abatido em Amalfi, Antioquia, resultando na morte de 12 policiais. O diretor-geral da polícia, Carlos Fernando Triana, classificou a ação como “terrorista”, direcionada a uma equipe envolvida na erradicação de plantações ilícitas.
O incidente envolveu drones e ocorreu enquanto a aeronave se deslocava para apoiar operações de combate a plantações ilegais. Grupos como dissidentes das Farc e o Exército Gaitanista da Colômbia (EGC), conhecido como Clã do Golfo, atuam na região. O ministro da Defesa, Pedro Sánchez, atribuiu o ataque ao EGC, enquanto Petro vinculou-o às dissidências das Farc.
Especialistas alertam para fortalecimento de grupos armados
Desde o início de 2025, a violência na Colômbia tem mostrado sinais de escalada, com confrontos em Catatumbo, Cauca, Guaviare, Córdoba, Magdalena Medio e Cesar. Entre janeiro e agosto, ao menos 117 pessoas morreram em confrontos na fronteira com a Venezuela, e mais de 60 mil foram deslocadas.
Segundo especialistas consultados pela BBC News Mundo, várias facções armadas reforçaram seu controle territorial e expandiram suas atividades ilícitas, o que coloca em xeque a eficácia das negociações de paz conduzidas pelo governo.
Críticas da oposição intensificam polarização
Os ataques de quinta-feira reacenderam críticas à política de segurança de Petro. O partido Centro Democrático acusou o governo de priorizar a proteção de criminosos ligados às Farc e ao ELN em detrimento da população. O ex-presidente César Gaviria, do Partido Liberal, declarou que a estratégia de “paz total” fracassou na redução da violência.
O presidente, por sua vez, defendeu sua gestão destacando que a taxa de homicídios sob seu governo é significativamente inferior à de administrações anteriores, incluindo a de Gaviria. A menos de um ano das eleições presidenciais, a segurança tornou-se o principal tema de polarização política na Colômbia.
( Com BBC NEWS BRASIL )
