Por Wilton Emiliano Pinto *
Não há dúvida: estamos todos evoluindo. De maneira quase imperceptível, a cada dia, novos significados se revelam, como luzes acendendo em lugares onde antes só havia sombra. E, assim, sigo vivendo — e aprendendo.
Foi exatamente isso que me aconteceu, de forma marcante, ao assistir, pela terceira vez, ao filme sobre Divaldo Franco.
https://youtu.be/FrMppMyoCtM?si=kW8K395ZPmjEwO1S
Parece estranho dizer, mas é verdade: cada vez que revi aquelas cenas, uma nova camada de entendimento se descortinou. Como se o filme fosse o mesmo, mas eu, que o assistia, já fosse outro.
Naquela terceira vez, uma cena me desarmou por completo e me convidou a olhar para Deus sob uma perspectiva até então inédita para mim.
Divaldo e seu amigo, Dilson, atravessavam a noite, como tantas outras vezes, distribuindo alimentos aos que a cidade esqueceu: os moradores das calçadas, dos vãos, dos bancos de praça. Era um gesto simples, mas de uma grandeza que nem sempre nos damos conta.
Em meio àquela rotina silenciosa, uma cena brusca: um dos mendigos, tomado pela raiva ou pela dor — quem pode saber? — jogou seus restos de comida em Divaldo, gritando e proferindo palavrões.
O que se espera de nós, humanos ainda tão frágeis, seria uma reação à altura: indignação, censura, talvez uma palavra áspera.
Mas não.
Divaldo, com a serenidade que só os espíritos mais maduros carregam, apenas disse: hora que precisar de mim, procura, estarei sempre por aqui. E saindo disse ao mendigo “Fique com Deus.”
O homem, tomado por sua revolta, gritou: “Quem é Deus pra você?”
E então veio a resposta que me desestabilizou:
“Deus é aquele que me testa. É aquele que me faz evoluir. Deus é você.”
Silêncio.
Essa frase reverberou dentro de mim, como se um sino soasse no centro do peito, ecoando muito além do instante em que foi dita.
Deus não é um conceito longínquo, não é um ser enclausurado em dogmas ou templos. Deus é o outro. Deus é aquele que me coloca à prova, que me desafia, que me empurra para fora da minha zona de conforto. Deus é aquele que me provoca a servir, a compreender, a perdoar, a ser mais do que eu sou.
Naquele momento, percebi que todas as vezes que me senti injustiçado, traído, ou mesmo atacado, estava, na verdade, diante de uma oportunidade divina de crescimento.
Deus se manifesta, tantas vezes, sob a forma do improvável: um mendigo revoltado, um amigo difícil, um parente que fere, um desconhecido que nos ignora. São essas figuras que, sem saber, nos ajudam a evoluir.
Saí daquela experiência, mais do que nunca, convicto de que a espiritualidade não se mede pelo quanto falamos de Deus, mas pelo quanto reconhecemos Deus em cada rosto que encontramos.
E, desde então, cada pessoa que cruza meu caminho — seja com um sorriso ou com uma ofensa — passa a ser, para mim, também uma manifestação d’Ele.
Porque, afinal, como ensinou Divaldo naquela noite silenciosa:
Deus é aquele que me faz evoluir. Deus é você.

Funcionário Público aposentado e gosta de uma boa prosa.