Polícia Federal e Civil prendem 15 pessoas em operação; parlamentar é apontado como “relevante membro do Comando Vermelho”
Um deputado estadual do Rio de Janeiro, conhecido como TH Joias, é acusado de usar o mandato parlamentar para lavagem de dinheiro, tráfico de armas e repasse de informações sigilosas a criminosos. A operação conjunta das polícias Federal e Civil resultou na prisão de 15 pessoas, incluindo o parlamentar, identificado como Thiego Raimundo de Oliveira Santos. Segundo os investigadores, ele era considerado um “relevante membro do Comando Vermelho”. As informações foram divulgadas pelo Fantástico, da TV Globo.
“Paletó e fuzil”: a dupla vida do parlamentar
De acordo com a polícia, TH Joias transitava entre a Assembleia Legislativa e os bastidores do tráfico. Vídeos obtidos na investigação mostram o deputado deitado sobre uma cama coberta de dinheiro, exibindo pilhas de dólares e reais. Em outro registro, aparece em um apartamento com traficantes e pergunta: “Tô bonito?”, ao ser apresentado como “o teu, o meu, o nosso deputado”.
As autoridades afirmam que o político atuava como “a facção criminosa vestida de terno, subindo em palanques”, instrumentalizando o cargo para proteger os interesses do Comando Vermelho e repassar dados sobre operações policiais. Além disso, teria intermediado a venda de fuzis, munições e drogas para facções rivais, como o Terceiro Comando Puro e os Amigos dos Amigos.
“Para fora, para a sociedade, um parlamentar preocupado com a segurança. Para dentro, nos bastidores, um relevante membro do Comando Vermelho, que trocava dinheiro para o chefe do tráfico solto”, disse à TV Globo o superintendente da PF, Fábio Galvão.
Ascensão marcada por luxo e conexões no crime
A carreira de TH começou no ramo das joias, negócio herdado do pai e que, segundo a polícia, funcionava como fachada para lavagem de recursos ilícitos. Ele ficou conhecido por vender peças a celebridades e a criminosos de alto escalão, como Manoel Pereira, o “Paulista”, apontado como terceiro homem na hierarquia do CV.
Investigações também revelaram que o parlamentar intermediava a venda de armas. Em um dos vídeos analisados, Gabriel Dias de Oliveira, o “Índio do Lixão”, testa um fuzil negociado pelo deputado. Em outro momento, Índio afirma: “Eu me dou com os monstros da facção, cara. Eu movimento dinheiro do homem mais procurado do Comando Vermelho”, em referência a Luciano Martiniano da Silva, o “Pezão”.
O estilo de vida ostentatório também chamou atenção. No chá revelação do filho de TH, os convidados receberam lembrancinhas de ouro, supostamente financiadas com recursos do tráfico.
Núcleo político-operacional do esquema
As investigações apontam que a organização criminosa mantinha ramificações dentro da política e das forças de segurança. O assessor Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o “Dudu”, preso na operação, teria importado ilegalmente equipamentos antidrone. Já o ex-secretário estadual Alessandro Carracena é suspeito de atuar para reduzir o policiamento em determinadas áreas.
O delegado da PF Gustavo Steel, preso com um anel de brilhantes confeccionado por TH, também teria recebido propina para repassar informações sigilosas. Para o delegado Fábio Galvão, “o núcleo político era usado quando precisava-se de alguma coisa no poder público”.
Outro envolvido é o influenciador digital Hytalo Santos, investigado por exploração sexual de menores e tráfico de pessoas. Segundo os diálogos interceptados, Hytalo mantinha ligações diretas com o grupo de TH e chegou a ter uma mulher ameaçada após críticas nas redes sociais. Imagens mostram o influenciador em eventos ao lado do deputado e de Índio do Lixão, incluindo um baile funk no Complexo do Alemão.
Histórico de condenações e retorno à política
Essa não é a primeira vez que TH enfrenta a Justiça. Em 2017, foi condenado a quase 15 anos por lavagem de dinheiro, cooptação de policiais e tráfico de armas e drogas, mas cumpriu apenas dez meses antes de recorrer em liberdade. Eleito suplente pelo MDB em 2022, assumiu o mandato após a nomeação de Rafael Picciani para a secretaria estadual.
Segundo o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, “por meio de um inquérito policial, ele foi investigado juntamente com outras pessoas e ficou comprovada a participação dele num esquema criminoso de lavagem de dinheiro, cooptação de policiais corruptos para obtenção de informações privilegiadas acerca de operações policiais, e também ele fazia a intermediação de venda de fuzis, munições e drogas”.
Após a operação, TH foi expulso do MDB e perdeu o mandato, embora permaneça como suplente. Para Curi, o caso expõe “uma legislação leniente que permite que esse tipo de aberração aconteça”.
As defesas do deputado e do delegado Steel negam as acusações. Já Carracena afirma que sua prisão se baseou apenas em mensagens de terceiros, sem provas concretas. O parlamentar segue preso no Complexo de Bangu, onde, segundo agentes, teria dito acreditar que a Assembleia Legislativa garantiria sua soltura em breve.