Plataforma de mercados de previsão, que ganhou destaque durante eleições e pandemia, atrai investimento de US$ 2 bilhões e valoriza startup em US$ 8 bilhões
Da dificuldade ao sucesso
Alguns anos após deixar a Universidade de Nova York com o objetivo de atuar no setor de criptomoedas, Shayne Coplan enfrentou sérias dificuldades financeiras. Em certo momento, chegou a inventariar os objetos de seu apartamento no Lower East Side para vendê-los e pagar o aluguel. “Essa ideia é boa demais para existir apenas em artigos acadêmicos”, disse ele em uma postagem posterior na rede social X.
A pandemia de Covid-19 se revelou uma oportunidade para Coplan. Presas em casa, muitas pessoas buscavam novas formas de entretenimento e investimento. Foi nesse contexto que ele desenvolveu a Polymarket, uma plataforma de apostas em resultados do mundo real, iniciando a construção do aplicativo em seu próprio banheiro e lançando-o em junho de 2020.
Conflitos com reguladores e crescimento exponencial
O modelo de operação da Polymarket, baseado em agir rapidamente e resolver questões regulatórias posteriormente, gerou atritos frequentes com órgãos reguladores. Durante anos, a plataforma precisou restringir o acesso de usuários dos Estados Unidos, por não ser uma bolsa registrada.
Em novembro de 2024, uma semana após a eleição presidencial — período em que os usuários da Polymarket apostaram mais de US$ 3 bilhões — agentes do FBI realizaram uma busca no apartamento de Coplan. Apesar disso, a empresa entrou em nova fase de expansão: a Intercontinental Exchange (ICE), controladora da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), anunciou um investimento de até US$ 2 bilhões na Polymarket, avaliando a startup em US$ 8 bilhões antes do aporte. A transação tornou Coplan, de 27 anos, o mais jovem bilionário self-made listado pelo Índice de Bilionários da Bloomberg.
Mercados de previsão: funcionamento e popularidade
Os mercados de previsão permitem que usuários apostem em resultados de diversos eventos, como eleições, decisões de juros do Federal Reserve ou até premiações da revista Time. Cada vez mais, essas plataformas têm atraído interesse semelhante ao das apostas esportivas.
Nos Estados Unidos, esses mercados são regulados pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), que os classifica como produtos financeiros vinculados a resultados de eventos, não como jogos de azar. Essa abordagem permitiu que plataformas como a Polymarket evitassem restrições estaduais e certos impostos aplicáveis a apostas esportivas. Em agosto, a concorrente Kalshi lançou apostas em parceria com a corretora Robinhood Markets, movimentando mais de dois bilhões de contratos de previsão no terceiro trimestre.
O anúncio do investimento da ICE afetou o mercado de jogos: ações de empresas como Caesars Entertainment e DraftKings registraram queda superior a 5% em um único dia.
Passado jurídico conturbado
Em 2022, a Polymarket pagou uma multa de US$ 1,4 milhão para encerrar processo da CFTC que questionava a legalidade de suas operações. Sem admitir nem negar as acusações, a empresa passou a bloquear usuários americanos.
Ainda assim, suspeitas de que usuários dos EUA continuavam acessando a plataforma levaram à ação do FBI, que invadiu o apartamento de Coplan uma semana após o Dia da Eleição de 2024, apreendendo dispositivos eletrônicos. A Polymarket classificou a ação como “retaliação política óbvia”.
Em julho, o Departamento de Justiça e a CFTC encerraram suas investigações. No mesmo mês, a empresa adquiriu a bolsa QCEX, licenciada pela CFTC, por US$ 112 milhões, garantindo a retomada legal das operações nos Estados Unidos.
Investidores e conexões políticas
Antes do aporte da ICE, a Polymarket já havia captado cerca de US$ 255 milhões, com participação de investidores como Peter Thiel, Vitalik Buterin e Blockchain Capital. Outro investidor de destaque, a 1789 Capital, aportou antes da eleição de 2024 e novamente em 2025, trazendo Donald Trump Jr. para o conselho em agosto.
O investimento da ICE pode reforçar os vínculos da Polymarket com Washington: Jeffrey Sprecher, CEO da ICE, é casado com a ex-senadora Kelly Loeffler, atualmente à frente da Administração de Pequenas Empresas e integrante do gabinete de Donald Trump.