Sem respostas eficazes para o INSS, Carlos Lupi enfrenta pressão para deixar o cargo
Avaliação no Planalto é que ministro da Previdência não apresentou respostas eficazes para conter descontos indevidos em benefícios
Desgaste político coloca Carlos Lupi sob risco de demissão
Auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já tratam como real a possibilidade de demissão do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, em meio à crise provocada por descontos indevidos em benefícios do INSS, sem autorização de aposentados e pensionistas.
Em conversas reservadas, Lula tem demonstrado irritação com o desempenho de Lupi na gestão do problema. A avaliação interna é de que, uma semana após a deflagração da crise no INSS, o ministro não apresentou soluções concretas para conter os danos à imagem do governo, num momento em que o presidente busca recuperar sua popularidade.
Lupi admite falta de plano claro para corrigir irregularidades
Na última terça-feira (29), durante audiência na Câmara dos Deputados, Lupi reconheceu que o INSS não deveria intermediar as relações entre associações de aposentados e os beneficiários. “É mais cômodo [para as associações] o desconto em folha do que ter que ir atrás do aposentado todo mês”, declarou.
O ministro ainda admitiu não ter uma proposta definida para reformular o modelo de credenciamento dessas entidades. “Não sei ainda como encaminhar isso. É uma opinião pessoal. Vou discutir internamente para ver se é opinião majoritária no governo”, afirmou.
Lula critica escândalo em pronunciamento de 1º de Maio
Pela primeira vez, Lula abordou publicamente o escândalo do INSS durante seu pronunciamento oficial de 1º de Maio. “Na última semana, nosso governo, por meio da Controladoria-Geral da União e da Polícia Federal, desmontou um esquema criminoso de cobrança indevida contra aposentados e pensionistas, que vinha operando desde 2019”, declarou o presidente, reforçando que determinou à Advocacia-Geral da União (AGU) o ajuizamento de ações para o ressarcimento dos lesados.
Nomeação de novo presidente do INSS escanteia Lupi
Um dos sinais mais claros do desgaste de Carlos Lupi foi a decisão de Lula de nomear diretamente o novo presidente do INSS, sem consultar o ministro da Previdência. Nesta quarta-feira (30), o procurador Gilberto Waller Júnior foi designado para o cargo, com o apoio da AGU e da Controladoria-Geral da União.
O novo presidente, descrito por aliados como de perfil técnico e “xerife”, recebeu carta branca de Lula para adotar medidas saneadoras e reestruturar o INSS. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, já havia antecipado a decisão do presidente de intervir diretamente na escolha.
Avaliação política no Planalto: desempenho de Lupi é insatisfatório
Durante a manhã desta quarta-feira, auxiliares do presidente ainda vislumbravam uma sobrevida para Carlos Lupi. No entanto, o cenário rapidamente mudou. Apesar da defesa enfática feita por Lupi na Câmara, integrantes do governo reconhecem falhas administrativas na condução do episódio e admitem que sua demissão passou a ser uma questão política — uma resposta à omissão percebida na condução da crise no INSS.
Embora o ministro tenha listado medidas tomadas desde o início do governo, como pedido de auditorias e exigência de biometria para novos descontos, as ações foram consideradas insuficientes. De acordo com informações apuradas, as primeiras providências efetivas só ocorreram após auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU), realizadas em 2023.
Investigação aponta esquema bilionário de descontos ilegais
A operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal e pela CGU no dia 23 de abril, revelou a dimensão do problema: entre 2019 e 2024, o valor descontado de benefícios de aposentados e pensionistas do INSS por diversas associações chegou a R$ 6,3 bilhões. Ainda será apurado qual percentual dessas cobranças foi ilegal.
Durante as investigações, a PF apreendeu itens de alto valor, como uma Ferrari, um Rolls Royce, US$ 350 mil em dinheiro e joias, vinculados a membros de associações suspeitas.
As entidades investigadas firmaram Acordos de Cooperação Técnica (ACT) com o INSS, autorizando descontos diretos na folha de pagamento dos beneficiários — muitos deles, segundo auditorias, sem estrutura operacional adequada ou sem documentação exigida.
Decisão sobre futuro de Lupi deve sair após conversas com aliados
Até o momento, auxiliares de Lula destacam que não há provas de envolvimento direto de Carlos Lupi no esquema de descontos irregulares. Ressaltam, porém, que o desgaste causado pela crise colocou sua permanência em xeque.
A decisão sobre a exoneração do ministro deve ser tomada após novas rodadas de conversas de Lula com envolvidos nas investigações. O presidente ainda avalia a atuação do ministro diante dos fatos e o impacto político de uma eventual substituição, considerando também as relações com o PDT, partido do qual Lupi é presidente licenciado.
